DIA DA
CONSCIÊNCIA NEGRA, OU DIA DOS SEM PÁTRIA E SEM NOME?
José Pardinho Souza
A história
do Brasil registra a existência de grandes quilombos, símbolos da resistência
negra contra a escravidão. O maior deles foi o de Palmares, que se estendeu por
vasta região do Estado de Alagoas. Palmares durou 95 anos (1600 a 1695). Sua
população era de aproximadamente 20 mil habitantes.
Seu mais
conhecido líder, Zumbi, nasceu em 1655 em uma das aldeias do quilombo. Quando
pequeno foi capturado por soldados do governo de Pernambuco e entregue a um
padre. Estudou português e latim. Foi batizado pelo nome de Francisco e
tomou-se coroinha. Em 1670 Zumbi fugiu da casa paroquial e se tornou um dos
líderes do quilombo, em virtude de sua cultura, coragem, capacidade de organização
e comando.
A história
de Zumbi nos lembra muito a história de
Moisés - líder do povo oprimido no Egito. Moisés nasceu de família humilde
sendo criado na corte. Um dia rompeu com o palácio, identificando-se com seu
povo, tornando-se um grande articulador da resistência frente ao Faraó.
Tanto Zumbi
quanto Moisés não viram o desfecho do processo de libertação. Acontece que a
Igreja oficial não apoiou a luta dos quilombos. A resistência negra teve como
força importante a religiosidade africana, tachada até hoje de demoníaca.
Como
entender essa contradição? Se os negros encontraram força libertadora em uma
tradição religiosa, lutando pela vida, como condená-la? E os cristãos,
herdeiros da mensagem libertadora, onde estavam? Exemplo concretos de libertação
nem sempre contam com a presença de cristãos, o que representa um grande
questionamento.
Para a luta
do povo negro Zumbi é um exemplo de coragem e determinação na luta contra as
desigualdades humanas.
A história nos leva a refletir
sobre as lutas do povo e sua luz revela nossos preconceitos contra lutas do
povo (negro) por justiça e liberdade. Busquemos dar continuidade às lutas dos
mártires, identificando-nos e engajando-nos nos movimentos negros, índios,
mulheres, crianças para enfrentar a realidade do mito da democracia racial no
Brasil.
Tráfico - Os negros eram tratados como
animais. Durante o dia trabalhavam nos engenhos e nas lavouras e parte da
noite, nas senzalas. Os negros foram escravizados porque davam lucro também
para os países que os comercializavam.
Muita gente
enriqueceu vendendo negros. Até a Igreja lucrou com isto, embora os documentos
papais da época só permitissem a comercialização de negros que já eram escravos
na África.
Castigo - Os negros não vieram ao Brasil
por livre e espontânea vontade. Não vieram à procura de riqueza. Viviam muito
bem nas suas terras na África. Foram arrancados de suas terras separados de
suas famílias, de suas culturas e de suas religiões. Foram trazidos e jogados
em terras estranhas aqui no Brasil. Isto, para o negro, significou deixar de
ser gente para ser animal, força bruta de trabalho manobrada pelos senhores de
engenho.
Senzala - Mesmo com a destruição de
Palmares e com a morte de Zumbi, os negros continuavam a fugir do castigo e do
tronco a que eram submetidos na senzala e a se agrupar nas florestas, lutando
pela sobrevivência e pela liberdade.
Na
sociedade, ainda hoje, existe discriminação nas escolas, no trabalho. Há, por
exemplo, quem pense que, num país como o Brasil, o racismo só existe por causa de
má fé de algumas pessoas mal intencionadas. Mudar a cabeça dessas pessoas seria,
pois, suficiente para acabar com a discriminação. Na realidade, é muito mais do
que isto; ele é um vírus que já contaminou toda a sociedade, desde as pessoas até
a estrutura.
Movimento de Consciência Negra - Objetivos:
- Lutar pela identidade do negro - Resgatar a cultura da história, do verdadeiro valor dos antepassados.
Hoje, nós
negros, em geral de todo o Brasil, temos um grito de luta pela liberdade deste
povo tão sofrido que são os negros.
Filósofo e Teólogo – Professor de
Filosofia, história, sociologia e antropologia cultural
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