ESCOLA
FÁBRICA DE SERES MENTALMENTE INVERTEBRADOS
:"Acredite
em si mesmo e chegará o dia em que os outro...s não terão outra escolha senão
acreditar com você."Cynthia Kersey.
Nesta semana estava em Toledo nas
proximidades do Centro de Diagnóstico e enquanto aguardava para ser atendido
ouvi um senhor de setenta anos fazendo crítica ao sistema educacional
brasileiro e ele dizia que "há muitos modos de educar. Uns passam pela
vara, pela imposição. Geram alunos ou filhos subordinados, passivos,
obedientes, domesticados, medrosos, tímidos, com dificuldades para se
decidirem, para optarem e se tornarem autônomos. O ambiente de estudo,
exclusivamente individualista da sala de aula, as provas, invariavelmente
individuais, o clima que reforça a auto-imagem de incompetência favorecem este
modo de educar.
Outros
educam para a partilha, a cooperação, a entre-ajuda de alunos e professores na
busca da solução de situações-problema, o mais próximas do dia a dia. Estes que
assim educam, sabem que a sala de aula não é parque de lazer. Por isso,
intensificam a seriedade do trabalho. Crêem que a alegria na escola se situa na
passagem, muitas vezes suada, da superação de uma perfeição menor para uma
maior. Este aprender gera alegria. Esta passa a ser o clic, o encontrei, o heureca. O clima de trabalho passa ser o de
mutirão. A escola que assim trabalho não vive apenas pensando em dever,
obrigação, tarefa indesejada, cola, controle disciplinar. Pelo contrário, há
ali a percepção de que se está crescendo, que cada aluno está se tornando um
homem, uma mulher, capaz de pensar e de agir coerentemente, tendo uma visão
global e crítica das coisas. Procedendo desta forma, professores e alunos
estarão ultrapassando a visão sincrética, obscura das situações. Através de uma
análise dos problemas estarão chegando a possuir uma visão global, sintética,
contextuando os fatos, com a possibilidade de, mais crítica e conscientemente,
se compromissarem com decisões que possibilitam melhor viver e conviver. Que
educação é esta? Parece-me importante explicitar o que de fato, se entende por
educação.
Educação
é um processo de descoberta e de apropriação de valores. É processo. Logo, não
é formada por produtos finais, por saber pronto, por doação de conteúdos
indigestos ou indesejados. É processo de descoberta e de apropriação de valores.
Descobrir e incorporar, transformar em vida os valores descobertos.
Na
medida em que os alunos descobrem e vivenciam valores, pode-se dizer que se
efetiva a educação.
Partamos
de uma comparação, vendo o que ocorre com certos alunos. Há alunos que se
sentem expropriados do direito de julgar suas próprias ações. Ao concluírem a
tarefa, resolvido o problema, realizando o exercício, costumam apresentá-lo ao
professor, perguntando: - É isso que o senhor quer? - É assim? - Que nota eu
ganho? - Está bom assim? - Será que acertei? - Está bonito assim? - Preciso
escrever mais? - Basta isso? - passei?
Todo este modo de pensar retrata o
sentimento de incompetência, de incapacidade até de emitir uma julgamento sobre
a ação. Parecem alunos mentalmente invertebrados, Tendo sempre que conferir com
o critério de alguém acima e fora deles mesmos. O normal seria que o aluno,
motivado, se projete com toda a sua convicção no trabalho e tenha certeza de
que acabou de fazer um bom trabalho. Então, ao mostrar seu produto ao
professor, dirá: - “Olha que trabalho bom que eu fiz! Tenho certeza de que
acertei, de que está bom”. - De qualquer forma, o trabalho realizado é o
produto do que há de melhor do aluno. Se o clima foi o de descoberta e o de
apropriação de valores, o trabalho escrito pelo aluno acaba, simbolicamente,
sendo um presente portador de presença. Um pedaço do aluno, do seu saber, do
seu envolvimento emocional acaba sendo
apresentado ao professor, através do trabalho escrito ou desenhado.
Se
há alunos que se considerem incapazes de emitir um julgamento sobre sua ação,
há também professores que se encontram na mesma situação. - Como?
Está
aqui presente a idéia de continuidade e de ruptura. Continuidade é fidelidade
às convicções, à experiência de vida que se possui. Ruptura é a crise que
interrompe a continuidade e apresenta à pessoa a possibilidade ou a necessidade
de se reequilibrar num novo nível. Por vezes o valor novo emergido da superação
da crise pode projetar dúvida sobre tudo o que a pessoa viveu como experiência
ou convicção. No caso do professor, ao receber programas, propostas, pode
ocorrer a generalização da dúvida sobre tudo o que era ou estava fazendo. Na
prática, nem sempre há clareza ou tempo para que a nova proposta se sedimente.
E o que ocorre é, em determinados casos, a descrença sobre a continuidade, a
adoção de um livro didático, no qual o professor nem sempre crê, por não
traduzir as convicções e o próprio conhecimento do professor. O professor, em
classe, não está ali para que os alunos aprendam o que está escrito num livro.
Está ali para que os alunos, de acordo com seu saber acadêmico e sua
experiência de vida, julga ser fundamental que os alunos aprendam. Senhor
Silvino qual, então, a função do professor educador?
Ele
respondeu com as seguintes palavras: É, ao meu ver, a de possuir um saber sistemático, orgânico,
científico, crítico, útil, prático, necessário para bem viver e conviver. Esta
saber é fruto da formação acadêmica e da experiência de vida do professor. O
saber trabalhado em classe com os alunos deve ter sido, antes, percebido como
valor pelo professor. Quer dizer: o professor, via formação acadêmica e via
experiência pessoal, somada à experiência dos demais colegas professores da escola
é que trabalhará com os alunos o que para ele representou e representa sucesso,
valor, vida.
O
saber refletido com os alunos é o saber possuído, incorporado, vivido, ruminado
pelo professor. Com pedaços de si mesmo, o professor acaba ajudando os alunos a
se construírem. O professor torna-se o único “audiovisual” indispensável na
escola.
Então,
nesse caso, jamais levará os alunos a estudarem algo no qual ele mesmo não crê.
Nunca
chegará na sala de aula para dar uma aulinha no qual não crê. Ao contrário, seu
ensino terá sabor de vida. Trabalhará um conhecimento experienciado.
A
apropriação do saber, transformando a vida, é que será o conteúdo que, via
educação, o professor espera transformar em vida para os educandos.
Enfatizamos, aqui, a necessidade de se
crer no que se ensina. O aluno acaba encontrando na escola um mestre que ensina
a pensar, a decidir, a agir, a viver. Após ouvir a voz da experiência na educação Claudino Gentile Ortigara representada pelo
Senhor Silvino estou revisando todos os meus conceitos de educação.
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