QUAL O ESPAÇO DA EDUCAÇÃO NO MUNDO
GLOBALIZADO?
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Talvez devêssemos retornar aos gregos e
examinar o que se passava na época de Sócrates. Seu amor pela verdade, sua
abertura para o humano e sua compreensão toda abrangedora da tarefa educacional
deve ser entendida em contraposição à prática dos sofistas da época para quem educação
era aperfeiçoamento numa arte, no sentido grego de transmissão de uma técnica,
de certos conhecimentos, cuja totalidade "formava" o profissional.
Sócrates buscava algo diverso. Temos
aí, logo no início de nossa história educacional ocidental essas duas posições,
De um lado, estão aí os que se interessam profundamente pejo imediato, pela
criação de possibilidades técnicas. Surgem os outros e perguntam: por quê? para
quê? qual a finalidade desse aprendizado? É a maiêutica socrática que entra em
cena e desafia os valores estabelecidos, pondo em cheque os resultados que os
sofistas alcançavam com tanto êxito. Estes, sabemos pela história, eram pessoas
brilhantes que captavam a atenção do público facilmente. Ocupavam posição
privilegiada na sociedade; eram os "tecnocratas" da época. Sócrates opõe-se-lhes
não porque estivessem ensinando uma
técnica. Os gregos sabiam que "saber fazer" alguma coisa era importante.
Sócrates criticava-os porque reduziam a missão educativa ao seu polo mais
elementar sem qualquer consciência crítica. Faltava no seu "saber" a
agilidade desafiadora da dialética. Sócrates introduziu-a percebendo os dois polos
necessários ao pensamento educacional: o polo da sabedoria e o do conhecimento.
Quando se examina a questão apenas
sob o ângulo do conhecimento, isto é, da aquisição de técnicas, onde fica o
caráter transformador
da educação? Desenvolve- se uma habilidade mas não se desenvolve a
personalidade humana. Sócrates percebia que o processo do desenvolvimento da
personalidade deveria incluir a aquisição de habilidades. Devemos levar este
mundo à produção. O aprendizado de técnicas tornou-se uma necessidade para que
o homem pudesse dominar a natureza e não se deixasse dominar por ela. Aqui a
própria Psicologia veio a assumir pepel de importância uma vez que o homem se
descobriu também natureza que precisava ser trabalhada com todas as suas
energias interiores. A educação teve e tem muito a ver com isso. As técnicas, entretanto,
não são suficientes para a transformação da realidade histórica. (Estou falando
em realidade histórica porque ela é mais do que o mero domínio da natureza pelo
homem, mas envolve a utilização do dominado, e o relacionamento de todos os
domínios). Ora, se as
técnicas
não são suficientes, surge a importância do outro polo que é a indagação da
razão diante desse domínio. Por que devemos dominar a natureza? Por que
dominá-la da maneira como o fazemos?O domínio da natureza é aprendido nas
faculdades do mundo ocidental. Como resultado dessa tarefa temos o
"tecnologismo", procurando fazer da técnica o fim da educação.
Passamos a glorifica- la, transformando-a no ápice do esforço universitário. O
homem que, pela técnica tentara subjugar a natureza passa a ser escravo da
técnica.
O polo da sabedoria, no sentido
socrático, é o que nos pode levar ao saber, isto é ao saber para quê, porque, e
como. Procura compreender o significado da técnica, da profissão e do dinheiro.
O processo educacional destinado a desenvolver
a personalidade humana oscila entre esses dois polos. Somos homo faber e homo
sapiens ao mesmo tempo. Ao transpor o conceito para o âmbito teológico passa-se
a mesma coisa. Podemos entender teologia como disciplina acadêmica e como
atitude. O problema da localização do processo de educação relaciona-se com essas duas maneiras de se
compreender a tarefa. O processo, uma vez que precisa começar,
desencadeia-se
a partir da escola. É na comunidade dos
que estão envolvidos no processo ensino aprendizagem que se torna possível a
reflexão e a ação. Não para se encerrar nessa comunidade, é claro. Mas é a
partir daí que se pode pensar em crescimento na consciência crítica e
participativa.Educação,então é o processo em que reunimos reflexão à prática em
relação ao desenvolvimento da nossa nova personalidade. Não me parece justo anular
um polo para privilegiar o outro.Como eternos estudantes não só pensamos nem só fazemos. Nós fazemos e
pensamos e vice-versa.
Até aqui temos examinado o conceito
de educação numa perspectiva muito
ampla. Vimo-lo como um processo de crescimento, desencadeado pela existência da
comunidade escolar e relacionado com a totalidade da realidade histórica. O que
nos falta examinar é o lugar que as instituições de ensino ocupam nesse processo amplo e todo
abrangente. As instituições de ensino são
lugares onde se preparam os lideres para o Brasil e para o mundo, comumente
chamados de cidadãos.São pessoas que atendendo os desafios modernos querem se
dedicar a trabalhos de mudar o homem e o mundo.
Filósofo e Teólogo - professor de
filosofia e teologia
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