sábado, 30 de março de 2013

QUAL O ESPAÇO DA EDUCAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO?


   QUAL  O ESPAÇO DA EDUCAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO?

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            Talvez devêssemos retornar aos gregos e examinar o que se passava na época de Sócrates. Seu amor pela verdade, sua abertura para o humano e sua compreensão toda abrangedora da tarefa educacional deve ser entendida em contraposição à prática dos sofistas da época para quem educação era aperfeiçoamento numa arte, no sentido grego de transmissão de uma técnica, de certos conhecimentos, cuja totalidade "formava" o profissional.
            Sócrates buscava algo diverso. Temos aí, logo no início de nossa história educacional ocidental essas duas posições, De um lado, estão aí os que se interessam profundamente pejo imediato, pela criação de possibilidades técnicas. Surgem os outros e perguntam: por quê? para quê? qual a finalidade desse aprendizado? É a maiêutica socrática que entra em cena e desafia os valores estabelecidos, pondo em cheque os resultados que os sofistas alcançavam com tanto êxito. Estes, sabemos pela história, eram pessoas brilhantes que captavam a atenção do público facilmente. Ocupavam posição privilegiada na sociedade; eram os "tecnocratas" da época. Sócrates opõe-se-lhes  não porque estivessem ensinando uma técnica. Os gregos sabiam que "saber fazer" alguma coisa era importante. Sócrates criticava-os porque reduziam a missão educativa ao seu polo mais elementar sem qualquer consciência crítica. Faltava no seu "saber" a agilidade desafiadora da dialética. Sócrates introduziu-a percebendo os dois polos necessários ao pensamento educacional: o polo da sabedoria e o do conhecimento.
            Quando se examina a questão apenas sob o ângulo do conhecimento, isto é, da aquisição de técnicas, onde fica o caráter transformador da educação? Desenvolve- se uma habilidade mas não se desenvolve a personalidade humana. Sócrates percebia que o processo do desenvolvimento da personalidade deveria incluir a aquisição de habilidades. Devemos levar este mundo à produção. O aprendizado de técnicas tornou-se uma necessidade para que o homem pudesse dominar a natureza e não se deixasse dominar por ela. Aqui a própria Psicologia veio a assumir pepel de importância uma vez que o homem se descobriu também natureza que precisava ser trabalhada com todas as suas energias interiores. A educação teve e tem muito a ver com isso. As técnicas, entretanto, não são suficientes para a transformação da realidade histórica. (Estou falando em realidade histórica porque ela é mais do que o mero domínio da natureza pelo homem, mas envolve a utilização do dominado, e o relacionamento de todos os domínios). Ora, se as
técnicas não são suficientes, surge a importância do outro polo que é a indagação da razão diante desse domínio. Por que devemos dominar a natureza? Por que dominá-la da maneira como o fazemos?O domínio da natureza é aprendido nas faculdades do mundo ocidental. Como resultado dessa tarefa temos o "tecnologismo", procurando fazer da técnica o fim da educação. Passamos a glorifica- la, transformando-a no ápice do esforço universitário. O homem que, pela técnica tentara subjugar a natureza passa a ser escravo da técnica.
            O polo da sabedoria, no sentido socrático, é o que nos pode levar ao saber, isto é ao saber para quê, porque, e como. Procura compreender o significado da técnica, da profissão e do dinheiro.
            O processo educacional destinado a desenvolver a personalidade humana oscila entre esses dois polos. Somos homo faber e homo sapiens ao mesmo tempo. Ao transpor o conceito para o âmbito teológico passa-se a mesma coisa. Podemos entender teologia como disciplina acadêmica e como atitude. O problema da localização do processo de educação  relaciona-se com essas duas maneiras de se compreender a tarefa. O processo, uma vez que precisa começar,
desencadeia-se a partir da  escola. É na comunidade dos que estão envolvidos no processo ensino aprendizagem que se torna possível a reflexão e a ação. Não para se encerrar nessa comunidade, é claro. Mas é a partir daí que se pode pensar em crescimento na consciência crítica e participativa.Educação,então é o processo em que reunimos reflexão à prática em relação ao desenvolvimento da nossa nova personalidade. Não me parece justo anular um polo para privilegiar o outro.Como eternos estudantes  não só pensamos nem só fazemos. Nós fazemos e pensamos e vice-versa.
            Até aqui temos examinado o conceito de educação  numa perspectiva muito ampla. Vimo-lo como um processo de crescimento, desencadeado pela existência da comunidade escolar e relacionado com a totalidade da realidade histórica. O que nos falta examinar é o lugar que as instituições  de ensino ocupam nesse processo amplo e todo abrangente. As instituições de ensino  são lugares onde se preparam os lideres para o Brasil e para o mundo, comumente chamados de cidadãos.São pessoas que atendendo os desafios modernos querem se dedicar a trabalhos de mudar o homem e o mundo.
 

Filósofo e Teólogo - professor de filosofia e teologia

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