EDUCAR PARA A LIBERDADE
Há
certas áreas do conhecimento humano que se esquivam às definições. Por isso,
são as mais definidas. Cada geração sente-se forçada a dizer quais são os seus
limites e perspectivas. Essas áreas podem ser vistas de ângulos diversos e consideradas
segundo diferentes intenções. É o que acontece com o tema deste artigo"
educar para a liberdade". Os que trabalham na área da educação têm suas definições a respeito. Estão envolvidos
com uma atividade que lhes parece clara, necessária e promissora. Entretanto não
considerariam irrelevante a pergunta que nos é proposta: que é educação? Para
que Educação? Quem educa quem? A serviço
de quem está a educação?
O
fato de levantarmos a questão,mais uma vez, é significativo. Mostra, em primeiro
lugar, que a tarefa da educação não é tão óbvia como parece. à primeira vista,
mas complexa e difícil. Educação,seria
então uma tarefa? E uma tarefa complexa e difícil? Em segundo lugar, estamos
nos dando conta de que vivemos numa realidade notável onde conceitos e
instituições flutuam
sob o influxo dos acontecimentos sociais.
Estamos levantando a questão não porque não sabíamos ontem o que era educação,
mas porque hoje não temos as mesmas certezas e nossas previsões para o futuro
mal se esboçam. Levantar esta questão significa reconhecê-la numa perspectiva
histórica. Em terceiro lugar, a questão sobre a educação está presa a espaços determinados. E uma
questão de natureza geográfica se me entenderem bem. A questão nos leva a
qualificações relacionadas com o mapa brasileiro e mundial. Que é educação
em Manaus, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre? O que é educação os
brasileiros da área rural e urbana? O que é educação para os trabalhadores que
vendem sua força de trabalho e para aqueles que compram a força do trabalhador?
A tarefa é localizada. Não só temos um tempo de educação , mas também um lugar,
Se os tempos mudam os lugares também se transformam. Pretendo, pois,
desenvolver uma reflexão ao longo dessas três preocupações que me parecem
subjacentes à questão original.
Educação
é uma tarefa complexa e difícil. Ao falarmos em educação brasileira estamos
pressupondo a realidade maior da educação. Com isso somos levados a perguntar
pelo seu significado, Este deve ser o nosso ponto de partida. O artigo 26 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que "a educação deve visar
ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e ao reforço do respeito pelos
direitos do homem e pelas liberdades fundamentais". Esse artigo faz parte
de uma sequência em que são ressaltados o direito que todo homem tem à educação
e à sua gratuitamente bem como o lugar que aí ocupa o país. Ao se colocar como objetivo
geral da educação "o pleno desenvolvimento da personalidade humana" já
se estão pressupondo capacidades e níveis. A personalidade é o material a ser
trabalhado dentro das possibilidades de cada um. A educação poderia ser
definida, então, como um processo onde esse desenvolvimento se torna possível.
Nesse caso podemos perceber duas opções: o desenvolvimento das personalidades segundo
padrões estabelecidos pela sociedade, que seria, segundo Piaget "a submissão
da mesma ao conformismo social'", ou o estímulo às possibilidades inerentes
ao indivíduo. O artigo 26, citado acima, vai além. Afirma que também compete à
educação reforçar "o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades
fundamentais". Com isso esclarece-se o tipo de desenvolvimento de
personalidade que está em jogo: a que cresce no respeito e na liberdade. A Declaração
da ONU tem ressonâncias em obras de autores brasileiros como Paulo Freire e
Lauro de Oliveira Lima, para citar apenas dois! Este último entende que o homem
é um animal transitivo, "em permanente reconstrução", de tal maneira
que "não se pode pretender preparar educandos para a vida, pelo simples fato
de não se saber o que será vida no próximo movimento
histórico".'
Para
que o processo educacional venha a se realizar é preciso que os indivíduos mantenham-se
abertos ao futuro e disponíveis ao desenvolvimento. Piaget entende que a tarefa
educacional visa à "formar indivíduos capazes de autonomia intelectual e
moral e respeitadores dessa autonomia em outrem".' Em outras palavras,
diríamos que não se busca, na educação, um mero desenvolvimento da personalidade
humana, como se não importasse alguma intencional idade. Uma pessoa só é
educada na medida em que atende às exigências do respeito e da liberdade.
Respeito e liberdade pressupõem vida em sociedade. O processo educacional
pressupõe os outros. Dá-se através de participação em estruturas. É um
intercâmbio.
Vimos,
então, que educação é um processo e que esse processo é social. Não quero
levantar aqui a conhecida e inútil polêmica entre o individual e o social. Não
me parece relevante querer saber, nesta altura, o que vem primeiro, se é a
pessoa ou a sociedade. No nosso momento histórico essa questão não tem
importância. Não obstante isso, o processo educacional trata com pessoas. E
estas são passíveis de desenvolvimento em dois planos, o intelectual e o
moral.'
No
que concerne ao processo de desenvolvimento do plano intelectual há inúmeras
controvérsias. Que é mais importante neste nível? Será a transmissão de
técnicas? Será a aprendizagem de mecanismos em que a maioria passa a assumir o
comando? Qual o conceito de verdade subjacente à metodologia que ai se emprega?
Piaget acredita que "o objetivo da educação intelectual não é saber repetir
ou conservar verdades acabadas, pois uma verdade que é reproduzida não passa de
uma semiverdade: é aprender por si próprio a conquista do verdadeiro, correndo
o risco de desempenhar tempo nisso e de passar por todos os rodeios que uma atividade
real pressupõe."
O
desenvolvimento da personalidade no plano intelectual busca em primeiro lugar o
respeito de si mesmo, para que seja possível o respeito à liberdade de pesquisa
e de descoberta dos outros. Nos sistemas educacionais totalitários, em que se
procura inculcar uma ideologia oficial nos educandos, os indivíduos são submetidos
a lavagens cerebrais para que jamais venham a perceber, por si mesmos, os
contornos da verdade e da liberdade. O próprio Piaget entende que "não se
pode formar personalidades autônomas no domínio moral se por outro lado o individuo
é submetido a um constrangimento intelectual de tal ordem que tenha de
se limitar a aprender por imposição sem descobrir por si mesmo a verdade: se é
passivo intelectualmente, não conseguirá ser livre moralmente."
Vê-se
que estes dois planos são interdependentes. Os rumos que o processo educacional
pode vir a ter vão depender da disposição de uma determinada sociedade de
libertar as pessoas para experiências humanas de primeira mão e para a pesquisa
autônoma sem barreiras.
Filósofo e teólogo - professor de filosofia
e história
Bom professor acho que a relegião e a ciência podiam fazer as pazes, pois cada um escolhe o caminho que quer independente se escolherem a religião como forma de explicar as coisas ou a ciência. Cada pessoa hoje em dia é livre para fazer suas escolhas, eu particularmente prefiro a religião como forma de explicar as coisas, com seu artigo consegui compreender melhor porque religião e ciência brigam. Muito obrigado
ResponderExcluiraluno: Rafael Adriano
Colégio Estadual Chateaubriandense
Turma: 1°AI
N: 22