QUEM
SÃO OS CIVILIZADOS?
Um dos mais conhecidos autores
de histórias em quadrinhos do Brasil é o paulista Maurício de Souza. Ele é o
criador de personagens infantis que já saltaram das revistinhas para as telas
de TV e cinema.
Maurício de Souza procura dar
algumas aulas para as crianças em muitas de suas histórias. Ele tem demonstrado
preocupação didática usando os quadrinhos para passar informações úteis às
crianças. Menciono uma história sobre o sistema solar. Foi uma verdadeira aula
(Mônica nº 11).
Na revista do Chico Bento
encontramos o herói-indígena Papa-Capim. A escolha do nome foi infeliz, pois
demonstra que o próprio autor não se aprofundou na análise da situação dos
índios no Brasil. Papa-Capim induz as crianças a se imaginar alguém que se
alimenta de capim, como se fosse um animal. Aliás, tem gente por aí que acha
que índio é bicho-do-mato!
Vamos acompanhar uma aventura de
Papa-Capim. A história começa com dois caçadores andando pela floresta
tropical. A caçada é seu esporte preferido. Enquanto andam em busca da caça,
comentam:
_ Ei, Paulo!
Ouvi dizer que por aqui há selvagens!
_ Claro que há!
Afinal, estamos numa história de índio!
Quando acontece o encontro com
os selvagens, o medo toma conta deles. Durante toda a história eles não trocam
uma palavra com os selvagens!
Maurício de Souza tenta passar
muito superficialmente alguns valores que dignificam os índios: os caçadores
brancos acham o indiozinho bonitinho; eles percebem como os índios vivem em
harmonia com a natureza; notam que os índios não desperdiçam comida.
Quando regressam para a cidade,
os dois caçadores reencontram-se com a violência urbana, com a poluição, com o
engarrafamento do trânsito. A história termina
quando um
pergunta ao outro:
_ Que tal uma
fugidinha para aquela vida selvagem?
A visão dos caçadores é, no
mínimo, ingênua. Os povos indígenas no Brasil não vivem num paraíso. Na
realidade, a situação deles é bem outra: miséria, doenças, mortes, exploração,
desrespeito ... Pouco se faz para ajudá-los na defesa de seus direitos. Para
nós fica a pergunta: quem são os selvagens, hoje? A sociedade moderna,
desenvolvida, consumista, ou a sociedade dos índios, com sua cultura, seus
valores?
Após seis séculos de invasão das Américas, os invasores
celebram a "descoberta e a evangelização". Quando começa a nossa
história? Em 1.500, havia no Brasil 5 milhões de ameríndios. Hoje, existem
aproximadamente 200 mil sobrevivendo.Urge "descobrir" a história
calada dos moradores desta terra.
As vítimas do colonialismo hoje,
através da solidariedade CONSCIENTE, unem-se para mudar os rumos de uma
história determinada pela injustiça. É preciso reconhecer que, longe de
celebrar a evangelização de nosso continente, recordamos com dor uma estratégia
missionária cheia de contradições: as associações entre os espanhóis e a cruz,
o Estado e a Igreja, o soldado e o missionário, as armas e a Bíblia, resultaram
numa contra - evangelização e num contra - testemunho.As armas e a religião, a
espada e a Bíblia, foram desde 1492 o método usado pelos invasores.
Os missionários europeus
impuseram sua fé, sua religião e sua moral. Manifestaram-se desde o início como
se fossem donos da verdade, da terra e dos homens que nela viviam."
"Os missionários demonizaram a América ao querer evangelizá-la. Ainda hoje
a religião cristã é frequentemente utilizada para perpetuar dominações
estabelecidas.A evangelização do continente americano legitimou e apoiou a
conquista e a opressão.Lutamos séculos
para conservar nossas terras, águas, bosques, recursos naturais e humanos que
integram nossas culturas.
É
preciso passar de um sistema dominante para um sistema mais participativo e
justo.Afinal, quem é civilizado?
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