quarta-feira, 6 de março de 2013

QUEM SÃO OS CIVILIZADOS?


QUEM SÃO OS CIVILIZADOS?

 

                Um dos mais conhecidos autores de histórias em quadrinhos do Brasil é o paulista Maurício de Souza. Ele é o criador de personagens infantis que já saltaram das revistinhas para as telas de TV e cinema.

                Maurício de Souza procura dar algumas aulas para as crianças em muitas de suas histórias. Ele tem demonstrado preocupação didática usando os quadrinhos para passar informações úteis às crianças. Menciono uma história sobre o sistema solar. Foi uma verdadeira aula (Mônica nº 11).

                Na revista do Chico Bento encontramos o herói-indígena Papa-Capim. A escolha do nome foi infeliz, pois demonstra que o próprio autor não se aprofundou na análise da situação dos índios no Brasil. Papa-Capim induz as crianças a se imaginar alguém que se alimenta de capim, como se fosse um animal. Aliás, tem gente por aí que acha que índio é bicho-do-mato!

                Vamos acompanhar uma aventura de Papa-Capim. A história começa com dois caçadores andando pela floresta tropical. A caçada é seu esporte preferido. Enquanto andam em busca da caça, comentam:

_ Ei, Paulo! Ouvi dizer que por aqui há selvagens!

_ Claro que há! Afinal, estamos numa história de índio!

                Quando acontece o encontro com os selvagens, o medo toma conta deles. Durante toda a história eles não trocam uma palavra com os selvagens!

                Maurício de Souza tenta passar muito superficialmente alguns valores que dignificam os índios: os caçadores brancos acham o indiozinho bonitinho; eles percebem como os índios vivem em harmonia com a natureza; notam que os índios não desperdiçam comida.

                Quando regressam para a cidade, os dois caçadores reencontram-se com a violência urbana, com a poluição, com o engarrafamento do trânsito. A história termina

quando um pergunta ao outro:

_ Que tal uma fugidinha para aquela vida selvagem?

                A visão dos caçadores é, no mínimo, ingênua. Os povos indígenas no Brasil não vivem num paraíso. Na realidade, a situação deles é bem outra: miséria, doenças, mortes, exploração, desrespeito ... Pouco se faz para ajudá-los na defesa de seus direitos. Para nós fica a pergunta: quem são os selvagens, hoje? A sociedade moderna, desenvolvida, consumista, ou a sociedade dos índios, com sua cultura, seus valores?

                Após seis séculos  de invasão das Américas, os invasores celebram a "descoberta e a evangelização". Quando começa a nossa história? Em 1.500, havia no Brasil 5 milhões de ameríndios. Hoje, existem aproximadamente 200 mil sobrevivendo.Urge "descobrir" a história calada dos moradores desta terra.

                As vítimas do colonialismo hoje, através da solidariedade CONSCIENTE, unem-se para mudar os rumos de uma história determinada pela injustiça. É preciso reconhecer que, longe de celebrar a evangelização de nosso continente, recordamos com dor uma estratégia missionária cheia de contradições: as associações entre os espanhóis e a cruz, o Estado e a Igreja, o soldado e o missionário, as armas e a Bíblia, resultaram numa contra - evangelização e num contra - testemunho.As armas e a religião, a espada e a Bíblia, foram desde 1492 o método usado pelos invasores.

                Os missionários europeus impuseram sua fé, sua religião e sua moral. Manifestaram-se desde o início como se fossem donos da verdade, da terra e dos homens que nela viviam." "Os missionários demonizaram a América ao querer evangelizá-la. Ainda hoje a religião cristã é frequentemente utilizada para perpetuar dominações estabelecidas.A evangelização do continente americano legitimou e apoiou a conquista e a opressão.Lutamos  séculos para conservar nossas terras, águas, bosques, recursos naturais e humanos que integram nossas culturas. É preciso passar de um sistema dominante para um sistema mais participativo e justo.Afinal, quem é civilizado?

 

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