PLANEJAMENTO OU FATALISMO?
Através do planejamento o homem pretende arrancar o
mistério do futuro, dominando-o mais efetivamente e enveredando por ele com
certa segurança e esperança de êxito. Através do planejamento os homens
pretendem solucionar em boa parte os grandes problemas que os afligem, tais
como o analfabetismo, a doença, a fome, e o problema habitacional. Esta é a
razão porque termos como "planejamento" e "previsão"
exercem sobre o homem moderno uma atração mágica. Tudo ou quase tudo se espera
desta nova tarefa que dia após dia adquire maior grau científico e que se
afasta cada vez mais da mera adivinhação. As
viagens espaciais assombram-nos por causa da exatidão cronometrica de suas
etapas, realizadas, praticamente, conforme previsão dos técnicos e dos
cientistas.Neste campo,o planejamento encontra a sua máxima perfeição.Claro que
tem muita gente que prefere ir pela fé ou por crença do que fazer estudo
rigoroso.Tal comportamento já foi constatado por Franklin Deleno Roosevelt
"Eu não vejo porque não existe maior entusiasmo pelo planejamento, exceto
talvez por essa razão: que a palavra planejamento não anuncia algo muito
espetacular sobre ela e leva bons vários anos para se ver os resultados
dela."
Aguçando a imaginação, talvez
possamos esboçar
o mundo fictício de
amanhã, dirigido por uma nova raça de governantes, os planejadores, os quais se
encarregarão de prever com a máxima exatidão as atividades humanas, desde as
produtivas até as recreativas.
O planejamento oferece-nos o futuro.
Recuar essa oferta é colocar-se à margem da história, fora do corrente que leva
ao progresso e à abundância.
Neste
mundo invadido pelo planejamento parece insolência agir por fatalismo e por
crença do plano sobrenatural. Penso que mesmo que seja forte a cultura da
crença no sobrenatural é preciso que ele tenha um mínimo de previsão para que
não se veja envolvido por sérios problemas de saúde, de dinheiro e talvez até
de moral. Se alguém se esquece de suas limitações e realiza esforços
desmedidos, sem prever as consequências, ou então realiza investimentos
superiores a sua renda mensal, ou ainda não seleciona seus amigos,
imediatamente se dará conta de que sua conduta não é sábia, mas néscia. Esta é uma verdade no
terreno pessoal e muito mais, no
terreno social.
A
nação que não toma medidas e planeja cuidadosamente os passos futuros, imediatamente
se arrependerá de sua atitude ao ver-se confrontada com toneladas de problemas
que bem poderiam ser resolvidos se tivessem sido previstos. de alguma maneira.
Assim, por exemplo, se os países subdesenvolvidos tivessem planejado
corretamente o seu campo educacional, não teriam hoje excesso de advogados e
carência de engenheiros.Centenas e milhares de diplomados sem profissão para
aplicar o que aprendeu na universidade.Que adianta formar doutores para
navegarem num oceano de ignorantes. Sabemos que o planejamento é a negação da
improvisação e um convite a disponibilidade.A palavra "disponibilidade"
foi descrita pelo filósofo Gabriel
Marcel
como a virtude. que consiste em manter-se aberto para as novas possibilidades do futuro,
as quais nunca podem ser previstas
de
antemão. A disponibilidade é a virtude do homem que sabe que não pode dominar totalmente o
futuro e que está disposto a aceitar
o
que a vida lhe oferece. É
graças
à disponibilidade que o homem
pode
dar as boas-vindas a tudo que é novo, mesmo que isto modifique seus planos
cuidadosamente elaborados. A disponibilidade é uma virtude, porque ensina ao homem que ele não é um
ser perfeito e que jamais
poderá saber com absoluta certeza o que o futuro lhe reserva. A disponibilidade torna
o homem sábio, porque lhe ensina
que
a vida é mais rica, mais completa, mais misteriosa do que ele suponha; porque lhe ensina a
superar com alegria os obstáculos
que
surgem. A disponibilidade prepara o homem para a felicidade, porque esta chega sempre de forma
inesperada, repentina e sem
planejamento.
Não estar disposto a aceitar algo imprevisto, pode significar que a felicidade
trazida por essa situação fique por nós
desaproveitada.
É comum que uma
pessoa trace um plano de várias
etapas
sucessivas para cumprir em sua vida, como por exemplo estudar, formar-se, viajar para o
exterior, procurar um emprego
conveniente,
casar-se, ter filhos. Quando isso acontece, falamos de uma pessoa prevenida, que
alcançará o seu propósito, porque o planejou cuidadosamente. No entanto, pode
acontecer, e frequentemente ocorre que as diferentes etapas que planejou para
serem cumpridas em ordem determinada, sucedem em ordem diferente da
anteriormente planejada. Se isto acontecer e a aceitar com humor, com alegria,
então será uma pessoa com disponibilidade, porque aceita o novo jogo que a vida
lhe apresenta. Por outro lado, se permanecer firme em seu plano, rejeitando a
etapa que se antecede,expulsará
também a felicidade inserida nela. Em última instância, a disponibilidade defende-nós das
amarguras que podem provocar em
nós um desejo irrealizável. Mas, disponibilidade não deve ser confundida de com resignação. A
resignação limita-se em aceitar passivamente
a situação. Isso provoca frustração. A disponibilidade, porém, aceita a situação com a
esperança de alcançar, no
futuro, riquezas não
previstas. A
pessoa resignada
perdeu a esperança. O homem com disponibilidade não a perde, porque sabe que sempre se pode encontrar uma luz
no meio das trevas; porque sabe que
do tronco caído nascerá um renovo; porque sabe que alguém superior a ele sustenta-o.
Neste
mundo conquistado pelo planejamento, corremos o risco de perder a
disponibilidade. O planejamento não é mau; é sumamente necessária sobretudo no
terreno social e profissional. Mas, abusar do planejamento no terreno pessoal,
pode-nos transformar em pessoas inflexíveis, pouco dispostas a tolerar
novidades, capazes de se amargurar desmedidamente diante de qualquer contratempo
não previsto.
Filósofo e
Teólogo - professor de filosofia e história
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