"VOU BUSCAR
QUEM EU AMO"
É de manhã...
Vou de carona neste amor, pois
Quero chegar ao Sol, Sol do meu Céu Azul.
Sol que brilha no Rio Grande do Sul,
No meu coração.
Vou para lá, onde o sal tem mais sabor
E o amor é mais doce que
O mel que se destila dos favos
Não sei o nome de quem buscarei!
Quem sabe ela de mim se esqueceu.
Mas, preso a este amor, sigo livre com o vento.
Estou indo, neste sonho alado, para o Sul,
Sul do meu sentimento.
Lá, onde o Cruzeiro tem apenas uma estrela,
Brilhante qual sol de verão!
Eu me oriento por ela e
Desorientado sigo para o Sul.
Buscarei minha Gaúcha,
Seu calor e seus beijos ardentes.
Antes, porém, quero passar no Hawaí,
Em Bagdá... Num jardim onde a
rosa não murcha,
Jardim de Alá, e a esperança é azul
Com os olhos de quem amo.
Vou passear pelas ruas de Istambul,
Mas, em tantas voltas
Antes do pôr do Sol, chegarei lá.
Lá no Rio Grande do Sul,
Onde o Sol de Galileu continua sendo
O centro do Sistema Solar, e ela,
Eternamente, o centro do meu viver
E o ápice do amor.
"GRAMÁTICA DO
AMOR"
Uma vírgula nesta paixão.
Pequena pausa para o beijo
De sabor eterno.
Exclama o coração
que se explode no peito
Nisto minh' alma pergunta por você e
Nega-me se tento
fugir de mim para fingir
Uma saudade.
Contudo, estava na hora de colocar ponto final
Nesta dor;
Deixar entre aspas
"palavras de amor".
Quero fechar nossas vidas
com parênteses
E colocar um famoso et
cétera
No te amo, te amo, te
amo, etc..!
Mas, entre tantas coisas,
Não nos esquecemos de que somos
Concordância nominal, verbal,
espiritual e informal.
Conjugação célebre, sem pretérito
imperfeito
Mas apenas pretérito
perfeito e mais-que-perfeito.
Somos, neste amor, um presente festivo e um
futuro
Mais que desejável;
Um texto sem erros...
Somos gramática elaborada por Deus;
Dicionário que ensina o
idioma perdido
E o prazer de amar e viver.
Somos, a sós, encontros consonantais e vocais;
Sílabas que não se
separam
Na tônica do amor.
Enfim, somos reticências em tudo que
Se pode dizer de uma vida a
dois...
"LOURA &
MORENO"
Cai pela manhã o orvalho;
Molha seus cabelos d'ouro.
Perdem-se em suas lágrimas
Gotas de sereno e
Seu corpo alvo
Em meu corpo moreno.
Eles se misturam, eles se perturbam
No calor, no amor;
No sonho, na alegria
Em frente ao epelho;
Num sorriso, numa dor.
Sua volta iminente
Fez-me menino,
Faz-me carente.
Canto nossa canção,
Hino de amor,
Colo de emoção!
Você vai entrando.
Meu mundo parece pequeno.
Seus olhos azuis reluzem em
meu rosto;
Sua pele tão clara se perde
No Suor, no calor
do meu corpo moreno.
"TÃO POBRES E TÃO
RICOS"
(Rica miséria)
Meninos pobres, poetas ricos
Nesta casa tão "humilde".
Eperaças, lágrimas, tudo é amor!
Fluem palavras, emoções.
Riquezas não há,
Senão nos corações.
Vidas
embaladas pelo amanhã, sonhos.
Rostos tristes por
causa do ontem, fome.
Sentimos os segredos
do amor mais quente,
Recebendo amigos,
gente como a gente!
Ainda crescemos, é nossa aspiração.
Temos esperanças de um céu com coros
angelicais,
Que nos terá por simpatia.
Por mais cem ou, simplesmente,
Mais um dia.
Esta casa
tranparente!
Pelas
festas vemos o mundo:
São damas
e cavalheiros passantes.
Os brilhos
de nossos olhos, pelas gretas,
Vão se
transformando em diamantes
Ou em
lágrimas secretas.
Meninos
pobres!
Tentamos
fazer com alegria
De
nossa triste pobreza
A
mais rica poesia.
"POR TI"
Na rua, na onda,
Que ronda a lua.
Criança, menina -
Vestida ou nua.
Frondosa fronteira
Que limita os
sonhos...
A alma flutua;
O sangue circula
Na contínua idéia
Que ronda meu espaço,
Se estás na minha
Eu estando na tua.
"MENINA"
No fio da saudade
Gero uma paixão.
É o sabor de menina,
Volta que germina a
dor;
Presença que anima
O amor que alucina.
Ela me ilumina,
Faz-me nascer.
Eu concebo uma ilusão -
Ela é real, é ficção!
Morro em mim e renaço
No sentimento maior,
Para que ela se imagine:
Mil imagens;
Mil passagens
Sem barragens.
A verdade me intima -
É absoluta e relativa?
É um jogo,
Mas o amor predomina.
Menina!
Mina de prazer;
Rima ao dizer:
"Num momentro apareceu,
Ao olhar me envolveu".
Eu me perdi na razão
que me incrimina,
Frente à boca que fascina.
É sabor de menina,
Uma mudança de clima.
Mas o mundo se inclina
Para esta obra-prima.
É amor, perigo
paixão divina...
Dor, castigo,
solidão
e ruína...
Menina
a quem me destina
Eternamente o amor!
"SEMPRE SEU"
Efeito do defeito
Que trago num peito,
Alegre, sem jeito!
Foi um feito
desfeito
Desrespeito
a um coração
Que ama mais que
o próprio amor,
Sem
preconceitos.
Tudo
perfeito.
Azul celeste...
É o infinito por leito
Para amar eternamente!
Fui eleito
para você,
Sem pleito
a me eleger.
Sou seu por direito,
Ama-me enquanto aceito
Este caminho estreito
que mesmo sem
rumo
certo,
Leva-me ao amor.
"FRENTE A FRENTE"
No clarão dos seus olhos
Há dominante paixão.
Moradia em sonhos eternos,
Diamante e
ficção.
Sua voz, minha canção.
A distância,
saudades.
Pingos não, tempestades!
Seus cabelos correm,
Cachoeiras límpidas,
águas revoltas.
Que amores jorrem.
Vindas e
idas
Ou idas e
voltas.
LEMBRANÇAS DE UM PASSADO BEM
PRESENTE
Sentir-te-ei dentro
de mim
Para, na sede, ter
a fonte,
Fonte que
sacia a sede,
Fonte dos
teus olhos.
Encontrar-te-ei na
saudade,
Inverno
na solidão,
Solidão
do silêncio...
Em ti exaltarei todas as mulheres.
Eu as verei
através da tua
formosura.
Serás minha devolução
diária,
Minha
face oculta...
Serás um astro
desenhado
no Contorno do meu
coração;
A auréola do amor
que
me faz sorrir
Com um mundo melhor,
Que, sem ti,
não há,
nem
vem!
Serás
uma centelha
a
incendiar meu ser,
Pois passaste
e deixaste
Lembranças de um
passado
bem presente.
OLHAR AZUL
Sol da primavera,
Calor que sobe à terra.
Sol de um
olhar azul,
Calor que penetra
minha intimidade.
É amor,
perigo,
paixão divina...
Dor,
castigo,
solidão
e ruína...
Menina
a quem me destina
Eternamente o amor!
THE BEST
Ao longe, vem deus; tdo gabola. Sente-se o dono
Do mundo; o boyzinho que conquistou todas as
Meninas ingênuas e gasolinas da cidade.
Lá vem deus, com suas fantasias carnavalescas,
Com seus discursos machistas, tirados da manga.
Lá vem deus, pisando alto, com unhas encrevadas;
Com seu "raiban" espelhado - refletindo a imagem e
Dessemelhança.
Lá vem deus, om a barriga cheia de vento; com a
Cabeça cheia de estresses. Lá vem deus, inane,
Como os muitos filhos que ele criou do barro -
Pois não matéria mais rudimentar - e tornou
Maiores e menores abandonados.
Lá vem deus, ao lado de Hitler; exibindo sua
Farda verde-oliva, brincando com a suástica à
Direita, enquanto segura uma maquete da
"Challenger" com a esquerda.
Deus se aproxima, mudo de medo. Apenas seu
"Best Seller", o qual não escreveu, fala por ele.
Deus se aproxima. Pisa com seu coturno "44" o
Sangue de algumas crianças sacrificadas - à porta
Dos seus luxuosos templos.
Lá vem deus. Lá vem ele! tem encontro marcado no
Planalto Central. Vai discutir reeleição presidencial;
Alianças políticas; reformas tributárias; reformas
"Agrúras".
Lá vem deus. Se fingindo de colono; distribuindo
Mil e um autógrafos.. Ele pede esperanças e
Diz que tudo vai melhorar, um fia talvez, no
"Palácio" ( em que ninguém sabe o endereço) e que,
Ainda, segunda ele, nos pertence e, no qual, nos
Escravizará, eternamente. Amém.
Lá vem deus, com seus sofismas; com seus silogismos
Complexos. Deus está passando (atenção, homens,
Seeeeennntido!)
ESTADO ZUNIDO
O inseto voa sem rumo,
O rumo incerto voa para mim...
Eu, alado, vou aonde os pés não alcançam;
Chego impreterível ao seu coração cigano.
O sonho voa na ressonãncia do címbalo retinante;
O canto se retrai, num dos
quatro cantos do mundo.
O inseto voa; o pernilongo se desafina madrugada
Adentro.
Durmo para esta orquestra (des) sinfônica, barulhenta,
Que (des) anima minha noite e cobra meu sangue -
O seu cachê, para o seu pão de cada.
Minhas asas repousam à atmosfera tensa de nosso
Diário cômico. Eu sonho e vôo. O pernilongo
Voa e vem durante meu sonho por você.
IMAGO DEO
Esse Retrato desbotado;
Esta "cara" cheia de tristeza impune e
Explícita.
Espumas escorrendo à boca, madura
Ao beijo; e os desejos tropeçando
As próprias pernas.
Esta visita de fim de tarde,
Que vem como flor cabisbaixa;
Como saudade, que pegou carona na
Incerteza da brisa. Tudo aprecia a beleza
E a sublimidade da lágrima
Escravizada aos ohos, na razão de querer-te.
CORRENTEZAS
Correm em mim nascente
Córregos, rios, sangue e lágrimas...
Deságua no Amazonas e, do Amazonas,
Para o mar (morto).
Veio de sangue brotar do âmago
De tantos pontos ocultos.
Você, azul fugidio que olho
Da janela; nuvens que desenham castelos,
Casebres, animais domésticos, feras fadas...
Minha cidade, a capital de meus sonhos;
Você colore as flores; conduz a
Primavera em suas mãos; fotografa o
Descanso pálido luar.
Traduz detalhes tão íntimos que
Dissecam meus instintos cadavéricos e incorpóreos.
PARALELAS
Estudos minunciosos revelam as
Sensíveis linhas. Linhas vulneráveis;
Entrecruzadas; justapostas, confusas.
Com a vida sem destino,
São intermináveis, dentro de seus
Próprios limites.
São linhas da terra, onde se
Lança a semente. São linhas
Engastadas em grandes e pontiagudos
Anzóis, que fisgam nossos sonhos.
Estradas indefiníveis, onde um humano
E solitário espectro afuarda sua
Humanação, como o Verbo, e depois,
Que sua costela descarnada lhe dê presente sua flor-amada.
Linhas curvas; leito de suores;
Rio cercado de montanhas
De grossos e avermelhados calos ...
LInhas de mãos que prendem
Num mapa rasurado e num mundo
Sem bússula e sem cruzeiro.
"A" &
"M"
Respirar a dor sem descanso
Inesperados e sutis; às marcas
Das mãos. Medir suas plataformas;
Fazer mística com suas linhas
Que parecem letras. Respira-se a
Dor ao toque das mãos -
As messas que afagam! - A
delicadeza
De movimentos translativos, vai-se
Enumerando um talvez após o outro.
São sucessicvas as marcas;
"A" à esquerda; "M" à direita!
Quem ousa discutir que só faltam
Duas letras para ter o amor
Impresso nas próprias mãos?
TRAJES E NOITES
Trajada de noite,
Adornada em silêncio...
Passeias em meus caminhos,
Os quais não nos fazem retornar para casa.
Animas meus olhos brasas
Alivias as dores mais redundantes;
Brincas comigo, dizendo palavras
Que não encontro facilmente.
Vens, és toda a noite,
A face que me engana,
As mãos que me moldam,
O barro que compõe minha carnal natureza.
Vens pisando as pedras que o
Tempo colocou pelo caminho.
Vens, negra travestida; cheia de amor,
Conquista, sabores e vida.
Vens trajada de noite!
ALVORADA
Quando amanhecer, quero estar
Desarrumado; quero estar a vontade...
Me recomponho dios sonhos desgastantes.
Quando amanhecer, quero visitar
Seu mundo crido de um orgasmo;
Quero colorir a flor que traz nos cabelos -
Por onde desliso em liberdade. Quando
Amanhecer, quero carregar suas dúvidas
Em minhas tralhas. quero gritar seu
Nome, descrito no livro de minha vida.
Quero revestir sua ilusão áurea de
Ternura. Se amanhecer antes do tempo,
Quero soprar seu rosto suado. Deslisar
Meus dedos em seus lábios úmidos e
Repousar minha cabeça por sobre seu ombro.
DORME NENÉM!
Dormem eternas as regências da natureza
Caminham em cinismos nossas esperanças túmidas...
Quem guardou a noite da gente?
Dormem os resquícios invioláveis de nossos
Sonhos sempre mal-dormidos e repetidos;
Você ontem, você hoje, você eternamente!
A noite dorme, sonha, e acorda assustada...
...Mais um dia se inicia e a vida continua!
Novas e multiformes pegadas estarão nas
Estradas, sem ruas e sem becos, do tempo.
Eu seguirei seus passos largos;
Eu entoarei uma canção de ninar você.
PING-PONG
Rasguei tua roupa;
(Depois que rasga o pano o remendo é pior)
Fechei tua boca
(Boca fechada não entra mosquito,
Nem alimento!).
Dei-te um conselho
(Se conselho fosse bom ninguém dava;
Vendia em três vezes sem juros).
Fiquei sem cachorro no mato.
(Quem não tem cão, caça com gato! -
Caça, caça, caça e nunca
apanha).
Perdi-me no mapa de sua silhueta.
(Quem tem boca e não tem dinheiro
Jamais vai a Roma).
A coisa tá feia; a coisa tá preta!
Quem parte leva "saudade" de alguém...
Que fica chorado na fila de um posto
De saúde.
Quem espera jamais alcança o que foi mais
Rápido e partiu primeiro.
Tempo é dinheiro...!
(Não perca tempo. Faça como os políticos,
Jamais perca tempo trabalhando o
Ano inteiro).
Quem desdenha quer comprar!
(Cuidado com o PROCON! - Cuidado com
a propaganda enganosa!).
Eu aprendi a fazer alguma coisa:
Pinto e bordo o ano todo!
Nem todos que correm cansam.
( O rio da minha cidade "tá" correndo
Faz uma "cara"!).
Nem todos que andam alcançam.
( Um andarilho me disse que veio do
Norte aqui andando e não alcançou a
Felicidade).
CONVITE
Vinde a mim todos os que estais
Cansados e sobrecarregados...
Mas, se morrer for descanso,
Prefiro viver cansado, diz o dito.
Convidaram-me a fazer parte
Da sociedade dos poetas mortos.
Eu?
Recusei, naturalmente!
VEREDICTO FINAL
A Estátua da Liberdade está
Firmemente presa no chão.
O Cristo Redentor está de braços
Abertos, pedindo socorro;
No Rio, no alto do morro.
EXPOSIÇÃO
Minha Praça Vermelha é, na verdade,
Pintada de cinza.
FUGA
O rio corre, não sei de quem,
Para o mar.
FÉ
A fé removeu todas os montes
Da tábula-rasa e da
Chapada onde moro.
QUANTAS VEZES?
Que maluquice! em que estado me
Encontro? Que fera te devora por
Dentro? Tens o gosto da alosna à boca.
O desejo da carne, fraca demais.
Tens erros e acertos, como eu.
Mas nosso acertos sempre fazem
Parte de nossos erros mais fatais.
Temos tudo ao nosso alcance;
Tudo está à ilusão. temos um milhão
De idéias; várias nódoas ao
Nosso redor... Mas os nossos
Erros não nos perdoam 70 vezes 7 -
São pecados; são o outro lado
De uma mesma moeda.
ESPELHO
Chamo-te com voz afônica;
Agarro tua mão e aperto-te contra
Meu signo de amor... Dou-te um
Colar de estrelas; um pulseira de sol;
Um banho de àgua salgada...
Dou-te a noite enluarada.
Eu atendo teus clamores...
Transformo suas súplicas em
Muitas fotografias... Na poesia da
Vida estão teus mínimos detalhes;
Nas ondas da brisa, tua coragem e tua
Simplicidade. Eu tematizo teu nome;
Dou forma viva ao teu perfil...
Dou regência à tua voz... Te chamo
De Iara - mãe d' água, mãe de
Minha lágrimas que se unem aos rios.
FLAGRA
Enquanto pesadelos vão tomando conta
Das noites... Provoco-te a sonhos que
Nunca sonhaste. V6es um país que nunca
Existiu; ruas que nunca foram abertas;
Pessoas que nunca assumiram forma ou
Matéria. enquanto o tempo, mártir de
Si mesmo, vai passando; as ilusões vão
Criando vida; as pedras vão criando
Brilho; os olhos vão lampejando nas trevas
De um instante que vai sendo esquecido,
Palmo-a-palmo na flagrante existência
Do amor; forjado à luz, à noite, à paz.
A guerra... à vida, à morte!
(A)GENTE SECRETA
Quem pode esconder a gente?
Que podemos esconder da gente?
O caminho não é longo;
A noite não é criança tão criança.
A dor não é tão doída e a
Vida pode ser melhor vivida com
As coisas inéditas que podemos
Fazer. Nada é tão eterno...
Os sonhos não são pesadelos, enfim...
O amor pode não ser o começo do nada;
Muito menos de tudo o fim, prematuro.
Quem pode vencer a gente?
Quem é tão indiferente à nossa
Dependência... Vamos segurar
esta
Barra. Afiar nossas garras; desafiar
As guerras do mundo... Vamos apagar as
Brasas para não querimarmos nossos pés
Que teimam em ir a frente.
Quem é que vai apagar as chamas que
Aquecem a gente? Quem?
Ninguém!
OLHOS PETRIFICADOS
Palavras escorregadias vão descendo de
Seus lábios, brilhantes e úmidos como a
Mãe terra. Em seus olhos, arco-íris
Estão tatuados... Nos seios, imagens de
Dragões; serpentes, pelas pernas;
Animais pré-históricos pelo corpo todo.
Seu mundo vai se moldando em suas mãos;
Criando acidentes geográficos...
A águia dourada sobrevoa nossos campos;
Nas tuas mãos há mágica,
Linhas,
Dedos e garras...
Nas tuas mãos, o calor queima
Meu rosto semi-tocado,
No sonho e no
pranto.
(Lágrimas fervem no coração destemperado).
Tuas mãos vão moldando a argila
Feita vida, que minh'
alma
Conduz num
espaço de tempo...
Tuas mãos são saudosas...
Ditaram-me nosso último
adeus!
SAL DA TERRA
Se se olha para trás,
Nosso ontem nublado...
Chuva de enxofre!
Adeus Sodoma e Gomorra...
Se olharmos pra trás,
Apenas estátuas de sal
(Um cartão postal das desilusões)
INIMIGA DA PERFEIÇÃO
Você me chama para o outro
Lado da vida. Está com pressa;
Está solitária; está sedenta de
amor. Você me chama. Tem pressa.
Insiste; desespera-se...
Eu, deste lado da vida, respondo:
Já vou, porra!
CAIXINHA DE SURPRESA
Seu rosto avermelhado à força da
Adolescência... Traz uma mágoa
De mim; um raio de ódio, uma saudação
Fúnebre... que ironia! Nós nos
Encontrando nas coincidências da vida;
Nos encontrando no sangue destilado do
Desencontro. Pobres pedras; pobres
Corações de narizes empinados.
ANTROPOCALÍPTICO
Não duvides das águas turvas que me
Correm nas veias; da coragem que tenho
De acovardar-me; de meus ouvidos
Tapados com obstáculos abstratos.
Sim, é preciso degolar a Besta que
Pinta em nossos quintais desérticos.
É necessário desvendar os selos sagrados...
É preciso que façamos a trombeta soar
Nos quatro cantos de nossa imaginação.
PRESSA INERTE
Guias de trouxas e tropas veneradas
Subindo às ruas esburacadas de nossas
dores. Entrouxemos os sonhos e
Partamos daqui o mais rápido possível...
Alcancemos as asas do martírio e
O sol sem disciplina fixa. Somos guias
De loucos - cegos na escuridão quotidiana.
Somos brasas recém-descobertas e
Aventadas pelos ares.
Somos
tumores,
Rumores...
Somos guias,
Águias,
Águas correntes...!
ETERNA
Lágrimas da lua se perdem no espaço...
Ela está luminosa - são os olhos da
Noite, o gosto da saudade; o
Arrependimento no vazio.
Lua, este círculo dourado;
Assentado à solidão das madrugadas.
Seu corpo cheio de cavidades já reclama
O passado de mocidade.
Lua e lágrimas,
Sínteses de tantos
Corações solitários -
Debruçados turvos pelas noites embriagadas.
MANTOS NOTURNOS
Os olhos piromaníacos da noite
Repousam em sonhos místicos e
Pesadelos atrozes. O corpo se
Debruça às vozes do silêncio que
Mágoa, retrai, recalca...
São marcas marcas forasteiras, mendigas,
Doentes, encarceradas, nuas...
Pobres, necessitadas!
O chão se abre para o adeus;
Para sepultamento do tempo presente -
Fora de hora. a noite é apenas um
Vão se destruindo em pentagramas...
Suas mãos tangem os ritmos dançantes;
Os signos do amor. A flor, ao vento,
É música no seu mundo cheio de cores,
Festas e desejos que componho na
Solidão de nossos desencontros.
SANGUE
Vamos prender os demônios de
Fantasias irreverentes... Tornar
Nosso corpo efervescente no testemunho
Das nuvens mudas. Vamos colorir os
Campos com guerras inevitáveis;
Desfazer os nós das intrigas e
Deixar a vontade deslisar feito
Águas libertas. Castiguemos os anjos
Inertes de tradições inúteis...
Mas, não castiguemos a nós mesmos
Nessa vida breve que balança numa
Corda fixa e numa idéia bamba.
FORMAS DISFORMES
O gesto móbido do silêncio;
A trajetória incerta de suas idéias
Que roubo, à luz do dia, e
Parafuseo sem pudor.
Os seus olhos que metralham minhas
Falhas gritantes e arbitrárias...
Quando matar minha sede de amar emsuas lágrimas;
Em sua ira que me condena por insídia?
Meu silêncio será a voz de tantos
Amores, que jurei a você em súplicas
Sem prestígios, presságios, e em
Noites sem sombras.
O gesto matou-me!
"- Elementar, meu caro Watson!"
TATUAGEM
As marcas da "Besta" à pele;
Queimantes, sufocantes... inevitáveis!
Inúteis como o julgar de uma
Obra pela capa. Nada, da fotografia
Antiga do amor, escapa e a gente se
Derrapa às lágrimas de histórias íntimas.
O nervo à flor, sem perfume, da pele
Que reveste novas palavras, após muitas
Indecisões e briguinhas corriqueiras.
A alma tatuada comdragões soltando
Forgo às narinas e cauda, estili flecha,
A epertar o corpo imaterial de nossas dúvidas.
DOMINIUM
A dor tem cheiro orgástico;
Tem efeitos colaterais
pirotécnicos;
Tem
jardins botânicos;
Fibras sintéticas;
Relações patéticas;
Planos titânicos;
Formas estéticas...
Desejos satânicos;
Veias poéticas...
A dor tem gosto orgástico;
Passos simétricos;
"Mores" e
éticas.
Repúdio fanático;
Forças místicas;
Vozes estáticas...
A dor tem
tato orgástico;
Efeito drástico;
Revolta prática...
A dor tem audição orgástica;
Prazeres
eufóricos;
Inspirações metafóricas;
Constituições
eufêmicas...
Respostas categóricas.
A dor tem visão orgástica;
Lágrimas gástricas...
Fim cáustico.
INSIPIDO
Este gosto de destempero que me
Colocas á boca... Faz a vida
Pouca e os sonhos múltiplos.
Este destempero; gosto de sal
Cristalizado, que enriquece a
Infortúnea ilusão das folhas de outono.
Este hálito de floresta; este
Golpe certeiro à testa enrubrecida.
Traz-me a corrente sangüínea que
Prende corações no gráfico da natureza.
SÍMBOLO DE CASTIDADE
Oceanos calvos; rios envelhecidos
Em ondas inanomíveis. Céu de
Cabeleiras Grisalhas repousando
Na pedagogia do vento.
A terra, numa geografia lúcida,
Também é uma anciã de dias;
Dá à natureza e devora para saciar
Sua fome logo depois.
Quem viver, verá!
PRESENÇA REAL
Sol escuro que desce emsua tarde
Atemporal. Você me diz - "Tou" quase
Tonta. Não tou legal.
Um conselho de amigo, um copo d'água,
Uma sede distante de uma ansiedade...
Mas, no espelho da tarde, os reflexos
Reluzentes de companhias inesperadas
Vão metrificando sua dor, palpável e
Inoportuna. A tarde vai se despedindo
Em cada som involuntário de seus lábios,
Os quais reclamam que o corpo tem
Perdido a cor, combinada do arco-íris com
A rosa que nasce de um apelo casuístico
Da dor vespertina.
ROUND CONTINUOS
Os ventos balançando as folhas e
Eu de brigas com você, que ventila
E preenche minha inspiração poética,
Quase literária.
Quem inventou palavras que ofendem?
Não é preciso que as pronunciemos;
Não é desejável que montemos os
Sinais gráficos que, juntos, assolam a
Vida e a cobre de treva.
O tempo passa, a vida passa,
O vento se vai... e as nossas
"Briguinhas"
continuam.
TIMIDEZ EMBRIAGADA
Ás vezes paro e fico tímido;
Ás vezes tímido, paro. Vejo
Seus olhos, afrodisíacos,
Luninando os sexos dos anjos,
Convidando à cama noturna do silêncio.
Sem a voz do desejo, barcos de papel
Vão afundando-se às águas azuis,
Emanadas do profundo abismo que
Edificamos com tijolos, à vista, imaginários.
GESTOS EXCÊNTRICOS
A noite paraplégica se aproxima
Lentamente. Reclama da acolhida
A contra-gosto. Vem acompanhada do
Sono, à esquerda; e de sonho à direita.
Vem escoltada por brasões e por miríades
De coxos, de enfermos, esquecidos e
Torturados na sina protentosa da vida.
A noite surda-muda se aproxima;
Gesticula... Quer falar qualquer
Coisa. Quer pedir licença à dor
Que excede da noite que passou,
Aproximadamente.
PRÉ-INTER-PÓS
O prelúdio envenenado de uma flecha
Qualquer faz o corpo tombar pálido
E cadavérico; faz a brisa poluir
O chão pisado por corpos estranhos...
O interlúdio de enganos arrasta, seduz
Para longe do alvo que, há muito,
Foi errado por Deus e suas
Malfeitas criaturas orgulhosas.
O poslúdio de tentativas frustadas
Reencaminha o corpo tombado à terra
Árida e coloca o alvo a frente, miragem
Incandescente do princípio, meio e fim
Do nada reconstruído.
DESERTOS
Os líquidos extintos, as veias sedentas.
O corpo abalado até as
estruturas da paixão
Preto no branco.
O sol divaga pelo céu idiferente, faz
Sua morada dentro do repouso das àrvores;
Dentro das àguas paradas que não movem moinhos
O sangue sugado. O dia irriquieto,
Malvado! O suor pingava; as lágrimas
Caíam. As nuvens derramavam...
A saliva caía incondicional da boca condicionada.
Os líquidos secaram! O sémem se perdeu e
Vazaram-se as meninas dos olhos.
Líquidos extintos; corpo isento de emoção.
OFERENDAS
Portas se abrem, portas se fecham.
Quem se importam com a gente?
Demônios ou anjos recepcionarão
Nossas almas penadas e vagantes?
Que líquido matará nosa sede?
Que purgatório nos acolherá
Que comédia nos será tão divina?
Que sol Galileu inventará
Para cegar nossos olhos enluarados?
Bombas explodem-se; corpos voam
Espedaçados; sonhos são mutilados
E soterrados no solo de Júpter
Quem ainda acredita no som que
Produz a boca em promessa?
No fim, os pés estrangulados não pisarão
Mais a uva; as mãos calejadas não
Apalparão mais os seios da terra;
Os olhos arrancados não alimentarão mais
As cores e as vozes silenciadas não
Pedirão mais socorro.
ENCONTRO
O beijo reincendiou roma destruída;
Alimentou Rômulo e Remo e derrotou Sansão.
O beijo foi a foice adúltera da bandeira
Vermelha; o desafios de Golias; a
Tentação dos verbos menores. O beijo foi
Pergunta grega e resposta troiana;
Foi a morte do sol e ressureição da lua.
O beijo foi cinista, estóico, epicurista...
O beijo foi o dedo no gatilho; nau perdida
Na imaginação poética; filho
bastardo;
Dardo cravado à esquerda de um peito
Que jaz, sólido, na frieza mortal.
IMAGEM E DESSEMELHANÇA
É bom diagnosticar tuas fases;
Tratar tua febre crescente; ciudar
de teu amor minguante. É bom oferecer-te
As ervas dos meus campos; plantar-te
Como semente dentro de mim. É bom
Ter-te como uma deusa iconizada,
Canonizada, no altar de minhas
Tranfigurações. É bom te cruscificar
Em meu caminho; te coroar com os
Espinhos fincados em meus pontos
Nevrálgicos. É bom te reinventar,
Como se reinventa a roda, sempre de novo.
MAPA EM CINZAS
Devolve-me o mapa do mundo, que me
Roubaste um dia, levando toda a alegria
Do meu ser e estar a procura do tesouro,
Oculto num cantinho de sua vida.
Dá-me a mão, estende-me a paz, cega e
Anestésica, perdida por entre os escombros
De nosso mal-entendido... Vê como é
Doído o furto de um pequeno sorriso.
Eu nada sou, mas o amor é tudo,
Significativo dos sonhos, na manhã,
Do poema belo, que tem tua imagem e
Dessemelhança.
MAL-ME-QUER
Seus lábios tatuados na sombra
Da noite, desencamihando meus
Sofisticados medos; aprisionando os
Fantoches que pintaram em nossos sonhos.
Meus suores se perdendo nas fendas
Do meu corpo, debruçado à nódoa de
Incongruências consolidadas na
Dor dos poros ensangüentados.
Você me traga, como a noite traga
As estrelas e as vomita logo na manhã.
Mal-me-quer ao despetalar uma flor
Que sangra ao toque insensível às mãos.
PRESSENTIMENTOS
A ira dos teus olhos lança
Minha alma num tubo de ensaio;
Desintegra as moléculas de meus
Planos tortos mal-traçados.
Perdão! Afogados assim não vamos
Longe antes do fim incerto. Tu me
Odeias, mas me tens por perto;
Pois sabes que gosto mais de ti
Que de mim impróprio. No caos,
Sombrio, das fatalidades que empreendemos
Eu sofro duas vezes mais; atraco-me no cais
Da dor que me provocam feridas que se desabrocham
À velocidade da luz.
COMO PODE UM PEIXE VIVO...
Somos peixes vivos nos aquários vivos do
Mundo. vivemos fora das águas frias do amor;
Nas turvas águas do pretérito indecifrável,
Que devora sem perdão.
Nossos corpos coloridos interjetivos,
Levados nas enxurradas de sangue que
Passaram por nossas sarjetas.
Nossos sonhos reverenciados no sacrário
De muitas embriagueses; destilados de
Nossa impune madrugada... Nossos
sonhos,
Detratores das aspirações flutuantes.
Somos peixes difamados - difamadores,
Que difamam as dores que já não suportamos mais.
PASS OVER
Paz epidêmica que inunda os
Mares esgotados da impaciência.
Ajeita-se na carência do arco-íris
Que bebe às fontes de teus olhos.
A pele iluminada, na ardência do
Tempo verbal, torna-se um astro de
Quinta grandeza, com o sexto sentido...
O gelo derretido, do cartão postal,
Inunda o branco silêncio da tristeza,
A circundar a íris de olhos luminosos.
Paz, mito da flor: resultado da chuva
De lágrima serôdia que molhou nossa sedição ao amor.
COMPREENDER
Compreender as ruas que nunca
Saem do lugar, mas conduzem-nos
Sempre para onde desejamos.
Compreender as pessoas que amam,
Sem saber o amor; sem acreditar
na vida,
Na flor, na brisa, no sonho,
Na ferida dos corações.
Compreender... Mas como
compreender a
Saudade? Vivendo para esquecer a
amada,
Ou morrendo para não se lembrar de nada?
Compreender o choro de alguém,
E aprender da voz do coração:
Amar... Tudo amar!
Amar mesmo que não compreendamos
O objeto do nosso amor;
Mesmo que o vazio nos sobrevenha!
Compreender o amor,
Pois amar é, às vezes, estar só!
E, muitas vezes, é um silêncio forçado,
Um sorriso mudo, um olhar desconfiado.
Compreender... Eis o lado oposto
do amor,
O qual não quer compreender, só amar!
Compreender, enfim, o imcompreensível.
Mas, no fim, não é preciso compreender
Quando se ama; é preciso, no
entanto,
Amar mesmo que não se compreenda.
PRESO EM LIBERDADE
Você me caça;
Fera faminta,
Mulher sem juízo;
Gemido de dor...!
Você me encontra.
Mete as mãos à cabeça -
Espanta-se ao ver o amor
Ao alcance das mãos.
Você me atrai;
Contrai-se ante os olhos luminosos
De suas próprias fantasias...
Perde-se ante as qualidades que me deu
Em apenas dois poemas.
Você me transforma;
Muda as formas dos meus pensamentos;
As direções dos ventos;
Muda meus hábitos de rotina.
Você assassina meu tempo,
Tempera, a seu gosto,
Nosso caso de amor;
Faz-me delirar por alguns segundos;
Abandonar a tristeza e
Escorrer ao ponto mais ínfimo -
À semelhança das águas!
Você, enfim, descarrega sua
Energia no meu "eu" desfalecido;
Quebra meus sigilos de amor
Ao ler uma correspondência minha a sua mãe...
No fundo, estamos bem afundados
Neste sentimento inesperado;
Estamos à mercê de detalhes pequeníssimos;
Onde acréscimos de lágrimas nos aguardam
Silenciosamente.
Você me caçou;
Prendeu-me à sua vida;
Tratou-me a beijos.
Agora, soltou-me por aí,
Sem rumo!
O MELHOR DOS SENTIDOS
O melhor de ti
Conheci num sonho...
No melhor do amor,
Estavas presente...
O amor se tornou
sonho; te tornaste
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