POR QUE O TRABALHO?
O sentido do trabalho do homem é a satisfação do
instinto de aventura que Deus lhe implantou no coração. PAUL TOURNIER
"HÁ
PESSOAS", diz Paul Tournier, "que
se preparam indefinidamente para a vida em vez de vivê-la." Em seu
recente livro, A Aventura de Viver, este eminente médico e psiquiatra suíço faz
um penetrante exame do "significado do trabalho". O encanto de ser amador,
o que Tournier espera ser por toda a vida, reside no amor que entra nesse
amadorismo.
É trabalho feito por
amor e não com fito de lucro. O desencanto com o trabalho não é fenômeno novo.
No começo do século XX, Arnold Bennett concluiu que na maioria dos casos, ”o homem não sente, precisamente, uma paixão
por seus negócios; e na melhor das hipóteses ele não gosta deles”. Ele
inicia sua atividade empresarial com alguma relutância, o mais tarde 'que possa,
e a termina com alegria, o mais cedo possível. E sua máquina, enquanto ele está
envolvido em seus negócios, raramente trabalha ao máximo de sua capacidade,
segundo diz Bennett.
O Dr. Tournier acha
que, em sua maioria, as pessoas não amam seu trabalho hoje em dia. Daí resulta
um sério descontentamento com a vida, que pode gerar muitas enfermidades
comuns. Os prazeres alheios ao trabalho, conquanto numerosos, raramente bastam
para compensar o verdadeiro amor que o indivíduo dedica ao trabalho. "Ajudar
um operário a descobrir uma nova atração em seu trabalho diário", diz o
autor, "é ajudá-lo a desfrutar de
uma vida mais plena e, amiúde, mais saudável."
Mas o problema da
atitude do indivíduo para com o trabalho pode dar margem a uma abordagem mais
direta. Bruce Larson encara de modo simples o problema: "Se você se sente miserável ou
entediado em seu trabalho ou teme ir trabalhar então sua consciência está
falando a você de duas uma: ou ela quer que você mude de trabalho, ou, mais
provavelmente, ela quer mudar você”.
Os cientistas do
comportamento estão fazendo sérias revisões nos conceitos tradicionais de
organização, e tais revisões terão efeitos de longo prazo sobre os cargos que
os homens ocupam. Mas, talvez, Tournier o diga melhor do que eles, ao sustentar
que na organização do trabalho, a reforma profícua bem podia tomar como ponto de
partida a noção de importância da pessoa. "Quando
um operário acredita que é considerado meramente como uma ferramenta de
produção, ele sente que se está transformando apenas em um objeto." Quando
dizemos que o homem é sempre fim, nunca meio, queremos dizer que o homem, a
pessoa, representa um valor, isto é, um ser apreciável e amável em si mesmo e
por si mesmo. Max Scheler faz a
distinção entre fim e valor. Tudo isso é abstrato e teórico. O homem em
concreto vive na família, na sociedade, na convivência com os outros. Quando é
que o homem, em sua vida real e quotidiana, pode se considerar reconhecido ou
tratado como fim, como valor absoluto?
Quando sente que se
interessam por ele como pessoa, que demonstram interesse em sua vida pessoal,
na aventura de sua vida, que aquilo que se espera dele não é simplesmente um gesto mecânico mas uma compreensão pessoal de seu
trabalho, sua inteligência, sua iniciativa e imaginação viva, bem como uma
sensação de fazer parte de uma equipe empenhada numa aventura comum, então esse
indivíduo toma consciência de si mesmo como pessoa, empenhada em uma aventura
pessoal." Ao contrário disso, o homem nunca pode
ser considerado como meio para outro fim. Ele é um valor absoluto, o que não
significa que seja o valor último ou o Absoluto.
O autor prossegue e analisa o que podia
acontecer se os dirigentes industriais buscassem seriamente partilhar com seus
operários a visão global que eles têm da aventura em que se acham envolvidos. Em
vez disso, geralmente ficam os trabalhadores com a mais lógica alternativa - um
conceito de que o trabalho que eles realizam é uma necessidade econômica, um
meio de ganhar a vida. Um operário individual, conquanto seja bem intencionado enquanto
tenta fazer o melhor que pode em sua seção de trabalho, bem pode perder a
convicção de que seu trabalho tem qualquer significação verdadeira. Sem o panorama
geral e não tendo um senso de direção
num esforço unificado, o trabalho que ele realiza pode descambar para a rotina.
'De certo modo, os dirigentes não percebem o quanto o operário normal é capaz
de compreender do panorama geral, e o quanto ele necessita saber para que tenha
um sentido fundamental de contribuição e realização. "Se você
começa a trabalhar em suas metas, suas metas começam a trabalhar em você. Se você começa a
trabalhar em seu projeto, seu projeto começa a trabalhar em você. Qualquer que seja a coisa boa que construirmos, ela
acaba por nos construir." Diz Jim
Rohn.
O Dr. Tournier vê com
simpatia o jovem questionador de nossos
dias. Quando o jovem pergunta por que é necessário trabalhar, não é suficiente,
diz o autor, responder: "Porque é seu dever." "Mais humanos do
que seus pais", diz o Dr. Tournier, "são aqueles que hoje não se
contentam mais em viver sem pensar, em fazer tudo tolamente como os demais, sem
saber por quê."
Nenhum comentário:
Postar um comentário