domingo, 13 de outubro de 2013


POR QUE O TRABALHO?

 

O sentido do trabalho do homem é a satisfação do instinto de aventura que Deus lhe implantou no coração. PAUL TOURNIER

"HÁ PESSOAS", diz Paul Tournier, "que se preparam indefinidamente para a vida em vez de vivê-la." Em seu recente livro, A Aventura de Viver, este eminente médico e psiquiatra suíço faz um penetrante exame do "significado do trabalho". O encanto de ser amador, o que Tournier espera ser por toda a vida, reside no amor que entra nesse amadorismo.

É trabalho feito por amor e não com fito de lucro. O desencanto com o trabalho não é fenômeno novo. No começo do século XX, Arnold Bennett concluiu que na maioria dos casos, ”o homem não sente, precisamente, uma paixão por seus negócios; e na melhor das hipóteses ele não gosta deles”. Ele inicia sua atividade empresarial com alguma relutância, o mais tarde 'que possa, e a termina com alegria, o mais cedo possível. E sua máquina, enquanto ele está envolvido em seus negócios, raramente trabalha ao máximo de sua capacidade, segundo diz Bennett.

O Dr. Tournier acha que, em sua maioria, as pessoas não amam seu trabalho hoje em dia. Daí resulta um sério descontentamento com a vida, que pode gerar muitas enfermidades comuns. Os prazeres alheios ao trabalho, conquanto numerosos, raramente bastam para compensar o verdadeiro amor que o indivíduo dedica ao trabalho. "Ajudar um operário a descobrir uma nova atração em seu trabalho diário", diz o autor, "é ajudá-lo a desfrutar de uma vida mais plena e, amiúde, mais saudável."

Mas o problema da atitude do indivíduo para com o trabalho pode dar margem a uma abordagem mais direta. Bruce Larson encara de modo simples o problema: "Se você se sente miserável ou entediado em seu trabalho ou teme ir trabalhar então sua consciência está falando a você de duas uma: ou ela quer que você mude de trabalho, ou, mais provavelmente, ela quer mudar você”.

Os cientistas do comportamento estão fazendo sérias revisões nos conceitos tradicionais de organização, e tais revisões terão efeitos de longo prazo sobre os cargos que os homens ocupam. Mas, talvez, Tournier o diga melhor do que eles, ao sustentar que na organização do trabalho, a reforma profícua bem podia tomar como ponto de partida a noção de importância da pessoa. "Quando um operário acredita que é considerado meramente como uma ferramenta de produção, ele sente que se está transformando apenas em um objeto." Quando dizemos que o homem é sempre fim, nunca meio, queremos dizer que o homem, a pessoa, representa um valor, isto é, um ser apreciável e amável em si mesmo e por si mesmo.  Max Scheler faz a distinção entre fim e valor. Tudo isso é abstrato e teórico. O homem em concreto vive na família, na sociedade, na convivência com os outros. Quando é que o homem, em sua vida real e quotidiana, pode se considerar reconhecido ou tratado como fim, como valor absoluto?

Quando sente que se interessam por ele como pessoa, que demonstram interesse em sua vida pessoal, na aventura de sua vida, que aquilo que se espera dele não é simplesmente um  gesto mecânico mas uma compreensão pessoal de seu trabalho, sua inteligência, sua iniciativa e imaginação viva, bem como uma sensação de fazer parte de uma equipe empenhada numa aventura comum, então esse indivíduo toma consciência de si mesmo como pessoa, empenhada em uma aventura pessoal." Ao contrário disso, o homem nunca pode ser considerado como meio para outro fim. Ele é um valor absoluto, o que não significa que seja o valor último ou o Absoluto.

O autor prossegue e analisa o que podia acontecer se os dirigentes industriais buscassem seriamente partilhar com seus operários a visão global que eles têm da aventura em que se acham envolvidos. Em vez disso, geralmente ficam os trabalhadores com a mais lógica alternativa - um conceito de que o trabalho que eles realizam é uma necessidade econômica, um meio de ganhar a vida. Um operário individual, conquanto seja bem intencionado enquanto tenta fazer o melhor que pode em sua seção de trabalho, bem pode perder a convicção de que seu trabalho tem qualquer significação verdadeira. Sem o panorama geral e não  tendo um senso de direção num esforço unificado, o trabalho que ele realiza pode descambar para a rotina. 'De certo modo, os dirigentes não percebem o quanto o operário normal é capaz de compreender do panorama geral, e o quanto ele necessita saber para que tenha um sentido fundamental de contribuição e realização. "Se você começa a trabalhar em suas metas, suas metas  começam a trabalhar em você. Se você começa a trabalhar em seu projeto, seu projeto começa a trabalhar em você. Qualquer  que seja a coisa boa que construirmos, ela acaba  por nos construir." Diz   Jim Rohn.  

O Dr. Tournier vê com simpatia o jovem questionador  de nossos dias. Quando o jovem pergunta por que é necessário trabalhar, não é suficiente, diz o autor, responder: "Porque é seu dever." "Mais humanos do que seus pais", diz o Dr. Tournier, "são aqueles que hoje não se contentam mais em viver sem pensar, em fazer tudo tolamente como os demais, sem saber por quê."

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