terça-feira, 8 de outubro de 2013

O RELACIONAMENTO EDUCADOR-EDUCATIVO


O RELACIONAMENTO EDUCADOR-EDUCATIVO





1. QUE EDUCAÇÃO?


Há muitos modos de educar. Uns passam pela vara, pela imposição. Geram alunos ou filhos subordinados, passivos, obedientes, domesticados, medrosos, tímidos, com dificuldades para se decidirem, para optarem e se tornarem autônomos. O ambiente de estudo, exclusivamente individualista da sala de aula, as provas, invariavelmente individuais, o clima que reforça a autoimagem de incompetência favorecem este modo de educar.

                        Outros educam para a partilha, a cooperação, a entreajuda de alunos e professores na busca da solução de situações-problema, o mais próximas do dia a dia. Estes que assim educam, sabem que a sala de aula não é parque de lazer. Por isso, intensificam a seriedade do trabalho. Crêem que a alegria na escola se situa na passagem, muitas vezes suada, da superação de uma perfeição menor para uma maior. Este aprender gera alegria. Esta passa a ser o clic, o encontrei, o heureca. O clima de trabalho passa ser o de mutirão. A escola que assim trabalho não vive apenas pensando em dever, obrigação, tarefa indesejada, cola, controle disciplinar. Pelo contrário, há ali a percepção de que se está crescendo, que cada aluno está se tornando um homem, uma mulher, capaz de pensar e de agir coerentemente, tendo uma visão global e crítica das coisas. Procedendo desta forma, professores e alunos estarão ultrapassando a visão sincrética, obscura das situações. Através de uma análise dos problemas estarão chegando a possuir uma visão global, sintética, contextuando os fatos, com a possibilidade de, mais crítica e conscientemente, se compromissarem com decisões que possibilitam melhor viver e conviver. Que educação é esta? Parece-me importante explicitar o que de fato, se entende por educação.

                        Educação é um processo de descoberta e de apropriação de valores. É processo. Logo, não é formada por produtos finais, por saber pronto, por doação de conteúdos indigestos ou indesejados. É processo de descoberta e de apropriação de valores. Descobrir e incorporar, transformar em vida os valores descobertos.

                        Na medida em que os alunos descobrem e vivenciam valores, pode-se dizer que se efetiva a educação.



                        2. COMO O PROFESSOR SE SITUA COMO EDUCADOR?


                        Partamos de uma comparação, vendo o que ocorre com certos alunos. Há alunos que se sentem expropriados do direito de julgar suas próprias ações. Ao concluírem a tarefa, resolvido o problema, realizando o exercício, costumam apresentá-lo ao professor, perguntando: - É isso que o senhor quer? - É assim? - Que nota eu ganho? - Está bom assim? - Será que acertei? - Está bonito assim? - Preciso escrever mais? - Basta isso? - passei?

                        Todo este modo de pensar retrata o sentimento de incompetência, de incapacidade até de emitir um julgamento sobre a ação. Parecem alunos mentalmente invertebrados, Tendo sempre que conferir com o critério de alguém acima e fora deles mesmo. O normal seria que o aluno, motivado, se projete com toda a sua convicção no trabalho e tenha certeza de que acabou de fazer um bom trabalho. Então, ao mostrar seu produto ao professor, dirá: - “Olha que trabalho bom que eu fiz! Tenho certeza de que acertei, de que está bom”. - De qualquer forma, o trabalho realizado é o produto do que há de melhor do aluno. Se o clima foi o de descoberta e o de apropriação de valores, o trabalho escrito pelo aluno acaba, simbolicamente, sendo um presente portador de presença. Um pedaço do aluno, do seu saber, do seu envolvimento emocional acaba sendo apresentado ao professor, através do trabalho escrito ou desenhado.

                        Se há alunos que se considerem incapazes de emitir um julgamento sobre sua ação, há também professores que se encontram na mesma situação. - Como?

                        Está aqui presente a idéia de continuidade e de ruptura. Continuidade é fidelidade às convicções, à experiência de vida que se possui. Ruptura é a crise que interrompe a continuidade e apresenta à pessoa a possibilidade ou a necessidade de se reequilibrar num novo nível. Por vezes o valor novo emergido da superação da crise pode projetar dúvida sobre tudo o que a pessoa viveu como experiência ou convicção. No caso do professor, ao receber programas, propostas, pode ocorrer à generalização da dúvida sobre tudo o que era ou estava fazendo. Na prática, nem sempre há clareza ou tempo para que a nova proposta se sedimente. E o que ocorre é, em determinados casos, a descrença sobre a continuidade, a adoção de um livro didático, no qual o professor nem sempre crê, por não traduzir as convicções e o próprio conhecimento do professor. O professor, em classe, não está ali para que os alunos aprendam o que está escrito num livro. Está ali para que os alunos, de acordo com seu saber acadêmico e sua experiência de vida, julga ser fundamental que os alunos aprendam. Qual, então, a função do professor educador?

                        E a meu ver, a de possuir um saber sistemático, orgânico, científico, crítico, útil, prático, necessário para bem viver e conviver. Este saber é fruto da formação acadêmica e da experiência de vida do professor. O saber trabalhado em classe com os alunos deve ter sido antes, percebido como valor pelo professor. Quer dizer: o professor, via formação acadêmica e via experiência pessoal, somada à experiência dos demais colegas professores da escola é que trabalhará com os alunos o que para ele representou e representa sucesso, valor, vida.

                        O saber refletido com os alunos é o saber possuído, incorporado, vivido, ruminado pelo professor. Com pedaços de si mesmo, o professor acaba julgando os alunos a se construírem. O professor torna-se o único “audiovisual” indispensável na escola.

                        Então, nesse caso, jamais levará os alunos a estudarem algo no qual ele mesmo não crê. Nunca chegará à sala de aula para dar uma aulinha no qual não crê. Ao contrário, seu ensino terá sabor de vida. Trabalhará um conhecimento experienciado.

                        A apropriação do saber, transformando a vida, é que será o conteúdo que, via educação, o professor espera transformar em vida para os educandos.

                        Enfatizamos, aqui, a necessidade de se crer no que se ensina. O aluno acaba encontrando na escola um mestre que ensina a pensar, a decidir, a agir, a viver.

                       


                        3. O RELACIONAMENTO EDUCADOR-EDUCANDO


                        Relacionamento de dependência ou de participação? - Haverá um saber pronto, imposto ou um saber descoberto pelo esforço participativo da classe?

                        Sabe-se que a autoimagem da criança é a imagem que os adultos fazem dela. A criança introjeta padrões comportamentais adultos e, ao mesmo tempo, os reelabora, havendo uma interação vital. Da maneira como os adultos que lhe são significativos a contratam, acabam sendo isto mesmo. O problema surge quando os adultos são contraditórios e não há reflexão sobre isto. Da contradição surge o conflito, gerando insegurança, um eu dividido, uma indefinição no processo de construção da própria identidade. Comparemos alguns modos de agir do educador com as reações dos educandos.


 














                        Quer dizer: o melhor meio é o de educar não pela forma de punição, mas sim, pela presença animadora, amiga. Os alunos ou filhos não precisam de críticos. Precisam de modelos e de ambiente motivador.

                        Assim é que o professor motiva seus alunos pelo saber e pela sua metodologia. Desta forma, enquanto a criança faz sua tarefa deve pensar: - “Vou fazer um trabalho excelente porque o professor tem gosto em ler o que escrevo. Quando eu lhe entregar o trabalho, ele vai ler com interesse, como se fosse um bilhetinho de um grande amigo. O professor não terá olho de urubu, querendo ver meu trabalho apenas para encontrar e corrigir os erros. Sei que o professor não é lixeiro, ficando de olho no podre, no errado, tendo vontade de corrigir por corrigir. Pelo contrário, ele vai olhar meu trabalho como se fosse um presente portador de minha presença".



4.   OS PAIS NA APRENDIZAGEM ESCOLAR DOS FILHOS


Parece-me que o papel dos pais em relação à aprendizagem escolar dos filhos é o de quererem aprender deles o que estão aprendendo na escola.

                        Se os filhos, em sala de aula, tiveram a ideia de que, em casa, poderão transmitir, com gosto, a seus pais tudo o que ali estão aprendendo, terão maior motivação para o estudo.

                        Por outra, se o aluno não tiver para quem comunicar o que aprendeu na escola, terá menos interesse em se apropriar do saber proposto pelos professores. Para este tipo de presença é que os pais, parece, deveriam ser informados.

                        No momento em que o trabalho escolar é feito com o intuito de ser lido, visto, analisado com interesse por leitores, que não o professor, os alunos verão no próprio professor alguém que os ajuda a produzir algo mais  perfeito para que outros leiam com gosto. Neste sentido, também, é mais interessante produzir textos em folhas soltas, juntando-as e transformando-as em livros, em revistas a serem mandadas para outras salas de aula. O escrever para ser corrigido e guardado, escondido em cadernos, é pouco suficiente para motivar os alunos a trabalharem em classe.

                        Todos os modelos de tornar público, de socializar o aprendido em classe, possibilitará o aumento de interesse em escrever. Está aqui, basicamente, o papel dos pais: quererem aprender os filhos o que estes aprendem na escola. Os alunos, tendo para quem comunicar o que aprenderam na escola, terão mais motivações e gosto em aprender.



5.   QUE DESENVOLVER NOS ALUNOS


Há múltiplos modos de enfocar a vida, a pessoa. Uns a vêem como composto de corpo e alma, sendo o corpo fonte de imperfeição e a alma o essencial a ser salvo, sobretudo depois da morte. Outros vêem a pessoa como homo sapiens e homo Faber ou como especialista (agindo com as mãos) e político (entendendo a trama humana no qual está inserido). Outros vêem a pessoa com processo progressivo de equilíbrio nos aspectos biológicos, psicológicos e social. Poderíamos também ver o educando a ser desenvolvido, basicamente, nestes setores:

n FÍSICO: saúde, autoaceitação; - homo Faber;

n AFETIVO: equilíbrio emocional;

n INTELECTUAL: com capacidade de ler, compreender o  mundo,  decidindo; -   homo sapiens

n SOCIAL: com capacidade de cooperar, participar, conviver; - o político.

n MORAL: com capacidade de pautar a vida de acordo com uma ética, uma filosofia de vida. Um quadro de valores;

n ESTÉTICO: com capacidade de admirar o belo, a arte; com sensibilidade para os valores;

n RELIGIOSO: com abertura para o transcendente, pautando a vida de acordo com uma fé explícita.


                        O distanciamento em relação ao dualismo mente-corpo, a superação da visão cartesiana de pessoa e de mundo está gerando profundas modificações no modo de entender a pessoa. Enfatiza-se hoje a visão que o todo da pessoa é postergado. Pelo contrário, o equilíbrio da pessoa consigo mesma e com o meio, dá-se sempre como um todo e não por gavetas estanques. Assim é que nossos alunos aprendem na interação do nível físico-afetivo-intelectual, social-moral-ético e religioso.

                        Não temos um cérebro a desenvolver, um corpo a educar. Uma afetividade isolada a ser trabalhada. Temos, sim, um homem, uma mulher, historicamente situados a serem auxiliados no processo de descoberta e de apropriação de valores para além dos que já possui.




6.   O DIRETOR NESTE PROCESSO


                        Parece-me que o Diretor da escola deve ser o grande educador. Aquele que possibilita a efetivação do que a própria escola se propõe. Para tanto:

n Articula os professores de tal forma que seu saber seja articulado, integrado, sem contradições, sem descompassos. O corpo docente terá a possibilidade de oferecer um ensino crítico, holístico de tal forma que a identidade da escola se torne explícita e unitária;

n Articula escola e família de tal forma que a filosofia que pauta o trabalho escolar não esteja em contradição com os valores vividos nas famílias. A aproximação escola e família possibilitará a redução da ansiedade entre o analisado e vivido na escola e família;

n Criará juntamente com os professores, os especialistas em educação, o pessoas administrativo um clima que favoreça a aprendizagem;

n A disciplina existente será fruto do conceito de educação que se possui;

n Buscará enriquecer os meios que facilitam a aprendizagem de tal forma que na escola prime a biblioteca, seja utilizado o vídeo, haja gosto pelo estudo, as salas de aula sejam local gostoso de ficar, os alunos se sintam responsáveis tanto no estudo, quanto na conservação da casa, do pátio;

n Tentará equilibrar seriedade, disciplina e gosto pela escola, pelo aprender;

n Fará com que, na cidade, a escola seja a casa mais amada, querida pelos pais dos alunos e sobretudo para os próprios alunos.
BIBLIOGAFIA
LIPMAN, M. A filosofia na sala de aula, São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
MORALES, Pedro. A relação professor-aluno. São Paulo: Cortez, 2000.
NÉRICE, I. G. Didática, uma introdução. 2a edição. São Paulo: Atlas, 1977.
SEVERINO, Antonio. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2000.
TAPIA, J. & FITA, E. Motivação na sala de aula. São Paulo: Loyola, 2000. TIBA, Içami. Ensinar aprendendo. São Paulo: Editora Gente,
 

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