O
RELACIONAMENTO EDUCADOR-EDUCATIVO
1. QUE
EDUCAÇÃO?
Há muitos modos de educar. Uns passam pela vara, pela
imposição. Geram alunos ou filhos subordinados, passivos, obedientes,
domesticados, medrosos, tímidos, com dificuldades para se decidirem, para
optarem e se tornarem autônomos. O ambiente de estudo, exclusivamente
individualista da sala de aula, as provas, invariavelmente individuais, o clima
que reforça a autoimagem de incompetência favorecem este modo de educar.
Outros educam para a
partilha, a cooperação, a entreajuda de alunos e professores na busca da
solução de situações-problema, o mais próximas do dia a dia. Estes que assim
educam, sabem que a sala de aula não é parque de lazer. Por isso, intensificam
a seriedade do trabalho. Crêem que a alegria na escola se situa na passagem,
muitas vezes suada, da superação de uma perfeição menor para uma maior. Este
aprender gera alegria. Esta passa a ser o clic,
o encontrei, o heureca. O clima de trabalho passa ser o de mutirão. A escola
que assim trabalho não vive apenas pensando em dever, obrigação, tarefa
indesejada, cola, controle disciplinar. Pelo contrário, há ali a percepção de
que se está crescendo, que cada aluno está se tornando um homem, uma mulher,
capaz de pensar e de agir coerentemente, tendo uma visão global e crítica das
coisas. Procedendo desta forma, professores e alunos estarão ultrapassando a
visão sincrética, obscura das situações. Através de uma análise dos problemas
estarão chegando a possuir uma visão global, sintética, contextuando os fatos,
com a possibilidade de, mais crítica e conscientemente, se compromissarem com
decisões que possibilitam melhor viver e conviver. Que educação é esta?
Parece-me importante explicitar o que de fato, se entende por educação.
Educação é um processo
de descoberta e de apropriação de valores. É processo. Logo, não é formada por
produtos finais, por saber pronto, por doação de conteúdos indigestos ou
indesejados. É processo de descoberta e de apropriação de valores. Descobrir e
incorporar, transformar em vida os valores descobertos.
Na medida em que os
alunos descobrem e vivenciam valores, pode-se dizer que se efetiva a educação.
2. COMO O PROFESSOR SE
SITUA COMO EDUCADOR?
Partamos de uma
comparação, vendo o que ocorre com certos alunos. Há alunos que se sentem
expropriados do direito de julgar suas próprias ações. Ao concluírem a tarefa,
resolvido o problema, realizando o exercício, costumam apresentá-lo ao
professor, perguntando: - É isso que o senhor quer? - É assim? - Que nota eu
ganho? - Está bom assim? - Será que acertei? - Está bonito assim? - Preciso
escrever mais? - Basta isso? - passei?
Todo este modo de pensar
retrata o sentimento de incompetência, de incapacidade até de emitir um
julgamento sobre a ação. Parecem alunos mentalmente invertebrados, Tendo sempre
que conferir com o critério de alguém acima e fora deles mesmo. O normal seria
que o aluno, motivado, se projete com toda a sua convicção no trabalho e tenha
certeza de que acabou de fazer um bom trabalho. Então, ao mostrar seu produto
ao professor, dirá: - “Olha que trabalho bom que eu fiz! Tenho certeza de que
acertei, de que está bom”. - De qualquer forma, o trabalho realizado é o
produto do que há de melhor do aluno. Se o clima foi o de descoberta e o de
apropriação de valores, o trabalho escrito pelo aluno acaba, simbolicamente,
sendo um presente portador de presença. Um pedaço do aluno, do seu saber, do
seu envolvimento emocional acaba sendo apresentado ao professor, através do
trabalho escrito ou desenhado.
Se há alunos que se
considerem incapazes de emitir um julgamento sobre sua ação, há também
professores que se encontram na mesma situação. - Como?
Está aqui presente a
idéia de continuidade e de ruptura. Continuidade é fidelidade às convicções, à
experiência de vida que se possui. Ruptura é a crise que interrompe a
continuidade e apresenta à pessoa a possibilidade ou a necessidade de se
reequilibrar num novo nível. Por vezes o valor novo emergido da superação da crise
pode projetar dúvida sobre tudo o que a pessoa viveu como experiência ou
convicção. No caso do professor, ao receber programas, propostas, pode ocorrer
à generalização da dúvida sobre tudo o que era ou estava fazendo. Na prática,
nem sempre há clareza ou tempo para que a nova proposta se sedimente. E o que
ocorre é, em determinados casos, a descrença sobre a continuidade, a adoção de
um livro didático, no qual o professor nem sempre crê, por não traduzir as
convicções e o próprio conhecimento do professor. O professor, em classe, não
está ali para que os alunos aprendam o que está escrito num livro. Está ali
para que os alunos, de acordo com seu saber acadêmico e sua experiência de
vida, julga ser fundamental que os alunos aprendam. Qual, então, a função do
professor educador?
E a meu ver, a de
possuir um saber sistemático, orgânico, científico, crítico, útil, prático,
necessário para bem viver e conviver. Este saber é fruto da formação acadêmica
e da experiência de vida do professor. O saber trabalhado em classe com os
alunos deve ter sido antes, percebido como valor pelo professor. Quer dizer: o
professor, via formação acadêmica e via experiência pessoal, somada à
experiência dos demais colegas professores da escola é que trabalhará com os
alunos o que para ele representou e representa sucesso, valor, vida.
O saber refletido com os
alunos é o saber possuído, incorporado, vivido, ruminado pelo professor. Com
pedaços de si mesmo, o professor acaba julgando os alunos a se construírem. O
professor torna-se o único “audiovisual” indispensável na escola.
Então, nesse caso,
jamais levará os alunos a estudarem algo no qual ele mesmo não crê. Nunca
chegará à sala de aula para dar uma aulinha no qual não crê. Ao contrário, seu
ensino terá sabor de vida. Trabalhará um conhecimento experienciado.
A apropriação do saber,
transformando a vida, é que será o conteúdo que, via educação, o professor
espera transformar em vida para os educandos.
Enfatizamos, aqui, a
necessidade de se crer no que se ensina. O aluno acaba encontrando na escola um
mestre que ensina a pensar, a decidir, a agir, a viver.
3.
O RELACIONAMENTO EDUCADOR-EDUCANDO
Relacionamento de dependência ou de participação? - Haverá
um saber pronto, imposto ou um saber descoberto pelo esforço participativo da
classe?
Sabe-se que a autoimagem
da criança é a imagem que os adultos fazem dela. A criança introjeta padrões
comportamentais adultos e, ao mesmo tempo, os reelabora, havendo uma interação
vital. Da maneira como os adultos que lhe são significativos a contratam,
acabam sendo isto mesmo. O problema surge quando os adultos são contraditórios
e não há reflexão sobre isto. Da contradição surge o conflito, gerando
insegurança, um eu dividido, uma indefinição no processo de construção da
própria identidade. Comparemos alguns modos de agir do educador com as reações
dos educandos.

Quer dizer: o melhor
meio é o de educar não pela forma de punição, mas sim, pela presença animadora,
amiga. Os alunos ou filhos não precisam de críticos. Precisam de modelos e de
ambiente motivador.
Assim é que o professor
motiva seus alunos pelo saber e pela sua metodologia. Desta forma, enquanto a
criança faz sua tarefa deve pensar: - “Vou fazer um trabalho excelente porque o
professor tem gosto em ler o que escrevo. Quando eu lhe entregar o trabalho,
ele vai ler com interesse, como se fosse um bilhetinho de um grande amigo. O
professor não terá olho de urubu, querendo ver meu trabalho apenas para encontrar
e corrigir os erros. Sei que o professor não é lixeiro, ficando de olho no
podre, no errado, tendo vontade de corrigir por corrigir. Pelo contrário, ele
vai olhar meu trabalho como se fosse um presente portador de minha
presença".
4. OS PAIS NA
APRENDIZAGEM ESCOLAR DOS FILHOS
Parece-me que o papel dos pais em relação à aprendizagem
escolar dos filhos é o de quererem aprender deles o que estão aprendendo na
escola.
Se os filhos, em sala de
aula, tiveram a ideia de que, em casa, poderão transmitir, com gosto, a seus
pais tudo o que ali estão aprendendo, terão maior motivação para o estudo.
Por outra, se o aluno
não tiver para quem comunicar o que aprendeu na escola, terá menos interesse em
se apropriar do saber proposto pelos professores. Para este tipo de presença é
que os pais, parece, deveriam ser informados.
No momento em que o
trabalho escolar é feito com o intuito de ser lido, visto, analisado com
interesse por leitores, que não o professor, os alunos verão no próprio
professor alguém que os ajuda a produzir algo mais perfeito para que outros leiam com gosto.
Neste sentido, também, é mais interessante produzir textos em folhas soltas,
juntando-as e transformando-as em livros, em revistas a serem mandadas para
outras salas de aula. O escrever para ser corrigido e guardado, escondido em
cadernos, é pouco suficiente para motivar os alunos a trabalharem em classe.
Todos os modelos de
tornar público, de socializar o aprendido em classe, possibilitará o aumento de
interesse em escrever. Está aqui, basicamente, o papel dos pais: quererem
aprender os filhos o que estes aprendem na escola. Os alunos, tendo para quem
comunicar o que aprenderam na escola, terão mais motivações e gosto em
aprender.
5. QUE
DESENVOLVER NOS ALUNOS
Há múltiplos modos de enfocar a vida, a pessoa. Uns a vêem
como composto de corpo e alma, sendo o corpo fonte de imperfeição e a alma o
essencial a ser salvo, sobretudo depois da morte. Outros vêem a pessoa como homo sapiens e homo Faber ou como especialista (agindo com as mãos) e político
(entendendo a trama humana no qual está inserido). Outros vêem a pessoa com
processo progressivo de equilíbrio nos aspectos biológicos, psicológicos e
social. Poderíamos também ver o educando a ser desenvolvido, basicamente,
nestes setores:
n
FÍSICO: saúde,
autoaceitação; - homo Faber;
n
AFETIVO: equilíbrio
emocional;
n
INTELECTUAL: com
capacidade de ler, compreender o
mundo, decidindo; - homo sapiens
n
SOCIAL: com capacidade
de cooperar, participar, conviver; - o político.
n
MORAL: com capacidade
de pautar a vida de acordo com uma ética, uma filosofia de vida. Um quadro de
valores;
n
ESTÉTICO: com
capacidade de admirar o belo, a arte; com sensibilidade para os valores;
n
RELIGIOSO: com
abertura para o transcendente, pautando a vida de acordo com uma fé explícita.
O distanciamento em
relação ao dualismo mente-corpo, a superação da visão cartesiana de pessoa e de
mundo está gerando profundas modificações no modo de entender a pessoa.
Enfatiza-se hoje a visão que o todo da pessoa é postergado. Pelo contrário, o
equilíbrio da pessoa consigo mesma e com o meio, dá-se sempre como um todo e
não por gavetas estanques. Assim é que nossos alunos aprendem na interação do
nível físico-afetivo-intelectual, social-moral-ético e religioso.
Não temos um cérebro a
desenvolver, um corpo a educar. Uma afetividade isolada a ser trabalhada.
Temos, sim, um homem, uma mulher, historicamente situados a serem auxiliados no
processo de descoberta e de apropriação de valores para além dos que já possui.
6. O DIRETOR
NESTE PROCESSO
Parece-me que o Diretor
da escola deve ser o grande educador. Aquele que possibilita a efetivação do
que a própria escola se propõe. Para tanto:
n
Articula os
professores de tal forma que seu saber seja articulado, integrado, sem
contradições, sem descompassos. O corpo docente terá a possibilidade de
oferecer um ensino crítico, holístico de tal forma que a identidade da escola
se torne explícita e unitária;
n
Articula escola e
família de tal forma que a filosofia que pauta o trabalho escolar não esteja em
contradição com os valores vividos nas famílias. A aproximação escola e família
possibilitará a redução da ansiedade entre o analisado e vivido na escola e
família;
n
Criará juntamente com
os professores, os especialistas em educação, o pessoas administrativo um clima
que favoreça a aprendizagem;
n
A disciplina existente
será fruto do conceito de educação que se possui;
n
Buscará enriquecer os
meios que facilitam a aprendizagem de tal forma que na escola prime a
biblioteca, seja utilizado o vídeo, haja gosto pelo estudo, as salas de aula
sejam local gostoso de ficar, os alunos se sintam responsáveis tanto no estudo,
quanto na conservação da casa, do pátio;
n
Tentará equilibrar
seriedade, disciplina e gosto pela escola, pelo aprender;
n
Fará com que, na
cidade, a escola seja a casa mais amada, querida pelos pais dos alunos e
sobretudo para os próprios alunos.
BIBLIOGAFIA
LIPMAN, M. A filosofia na
sala de aula, São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
MORALES, Pedro. A relação
professor-aluno. São Paulo: Cortez, 2000.
NÉRICE, I. G. Didática, uma
introdução. 2a edição. São Paulo: Atlas, 1977.
SEVERINO, Antonio. Metodologia
do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2000.
TAPIA, J. & FITA, E.
Motivação na sala de aula. São Paulo: Loyola, 2000. TIBA, Içami. Ensinar
aprendendo. São Paulo: Editora Gente,
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